A Antártida era a ponte para os dinossauros viajarem entre continentes

Um crânio de quase 100 milhões de anos de um saurópode descoberto na Austrália, excecionalmente bem conservado, mostra que os dinossauros atravessaram a Antártida desde a América do Sul até à Austrália, revelou um grupo de investigadores.

O crânio quase completo do saurópode pertence a uma espécie chamada Diamantinasaurus matildae. Os saurópodes são conhecidos pelo seu pescoço extremamente longo. Era também um titanossauro, o único grupo de dinossauros saurópodes a viver até ao fim do Cretáceo (há 145 a 66 milhões de anos), antes da extinção dos dinossauros não pertencentes à região, relatou o Live Science.

Paleontologistas escavaram o espécime em 2018, num rancho de ovelhas a noroeste de Winton, em Queensland, na Austrália, e deram-lhe o nome de “Ann”. O D. matildae tinha o comprimento de um campo de ténis (23,77 metros) e pesava cerca de 27,5 toneladas, três vezes mais do que o Tyrannosaurus rex.

Os fósseis pareciam semelhantes aos ossos desenterrados na Argentina, o que levou os investigadores a pensar que os saurópodes viajavam entre a América do Sul e a Austrália, via Antártida.

“Ao analisar os restos mortais, encontramos semelhanças entre o crânio de Ann e o crânio de um titanossauro chamado Sarmientosaurus musacchioi, que viveu na América do Sul aproximadamente ao mesmo tempo que O Diamantinasaurus viveu em Queensland”, disse Stephen Poropat, paleontólogo da Universidade de Curtin em Perth, Austrália.

“Sugerimos que os saurópodes viajavam entre a Austrália e a América do Sul, via Antártida, durante o Cretácico médio”, continuou o investigador, um dos autores do novo estudo, publicado na Royal Society Open Science.

No Cretácico, a Antártida estava coberta de florestas e vegetação luxuriante. Os investigadores já sabiam que os saurópodes percorriam essa massa terrestre, após a descoberta do primeiro fóssil de um dinossauro de pescoço, em 2011.

Alguns cientistas já tinham teorizado que estes gigantes usavam a Antártida para fazer a ponte entre continentes. Na altura, a Austrália, a Nova Zelândia, a Antártida e a América do Sul formaram o último remanescente do supercontinente Gondwana, de acordo com o Museu Australiano.

Agora, no novo estudo, os investigadores compararam o crânio do saurópode mais bem preservado encontrado até à data na Austrália com outros de todo o mundo.

Utilizando varreduras detalhadas dos restos mortais de Ann, a equipa detetou semelhanças notáveis com um crânio de Sarmientosaurus descoberto na província de Chubut, no sul da Argentina, e descrito num estudo de 2016 na PLOS One.

Os investigadores já suspeitavam que estes dois dinossauros estavam intimamente relacionados mas, até agora, faltavam provas. “Osso por osso, os crânios do Diamantinasaurus e do Sarmientosaurus são extremamente semelhantes”.

Os crânios de dinossauros são uma descoberta extremamente rara. Além de alguns dentes, o crânio de Ann é apenas o segundo crânio de saurópode encontrado na Austrália, após a descoberta em 2016 de um crânio parcial.

Isto porque as cabeças dos saurópodes eram pequenas em relação ao seu tamanho corporal e eram constituídas por ossos minúsculos e delicados, decompostos mais rapidamente do que os membros robustos, explicou Stephen Poropat.

“As semelhanças entre os crânios do Diamantinasaurus e do Sarmientosaurus da América do Sul, de idade semelhante, são bastante impressionantes, e acrescentam mais apoio à hipótese de que os titanossauros deslocaram-se entre a Austrália e a América do Sul durante o meio do Crétaceo, presumivelmente através da Antártida”, disse ao Live Science Matthew Lamanna, paleontólogo do Museu Carnegie de História Natural e um dos autores do estudo de 2016.

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