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Anões e pessoas com deficiência podem ter sido adorados em tempos antigos

(dr) Luca Kis

Arqueólogos escavaram corpos de pessoas com ossos frágeis que morreram de doenças raras e descobriram que foram enterrados em cemitérios culturalmente significativos ou entre aqueles que eram altamente estimados pela sociedade.

Uma conferência em Berlim, que juntou mais de 130 paleopatologistas, bioarqueólogos, geneticistas e especialistas em doenças raras, desafiou noções antigas de que as pessoas nascidas com deficiências físicas raras, como nanismo ou fenda palatina, foram tratadas arduamente e cuidadosamente num passado distante.

De acordo com a Science, especialistas em bioarqueologia encontraram provas suficientes para afirmar que aqueles que nasceram com deficiência foram, realmente, apoiados pelas suas comunidades – muito mais do que se pensava até agora.

Além de receberem atenção e apoio das suas comunidades, essas pessoas foram também enterradas ao lado dos seus parceiros e, ao contrário do que se tem afirmado, não foram expulsas nem marginalizadas.

“Esta é a primeira vez que as pessoas são confrontadas com este assunto”, sublinhou Michael Schultz, paleopatologista da Universidade de Göttingen, na Alemanha.

Os cientistas escavaram ao longo do tempo corpos de pessoas com ossos frágeis que morreram de doenças raras e descobriram que foram enterrados em cemitérios culturalmente significativos ou entre aqueles que eram altamente estimados pela sociedade.

Quando Marla Toyne, antropóloga da Universidade da Flórida Central, em Orlando, encontrou uma múmia enterrada por volta de 1200 a.C. pelo povo Chachapoyas, do Peru, notou imediatamente a combinação de deficiências físicas e a localização do enterro do corpo.

O homem tinha uma coluna vertebral colapsada e uma perda óssea extrema, que indicava leucemia de células T em fase avançada. Apesar de os seus ossos sugerirem anos e anos de trabalho leve antes da sua morte, este homem havia sido enterrado num local respeitado pela sociedade.

“Ele tinha ossos frágeis, dor nas articulações e certamente que não andava muito. A comunidade estava ciente do seu sofrimento e, provavelmente, tiveram de fazer algumas acomodações para cuidarem e tratarem este homem”, disse a investigadora.

A bioarqueóloga Anna Pieri corrobora esta tese e adianta ainda que os menos favorecidos não eram apenas tratados gentilmente, como também admirados, reverenciados e muitas vezes encarados como se tivessem uma ligação com o divino.

Textos do Antigo Egito, por exemplo, provam que os governantes daquela altura preferiam ter anões como seus cortesão por causa dessa teoria. “Não eram consideradas pessoas com deficiência – eram pessoas especiais“, sustenta Pieri.

A especialista provou a sua teoria recentemente com dois casos de nanismo de 4.900 anos, enterrados em Hierakonpolis, no Egito. Os dois corpos foram enterrados no meio de dois túmulos reais, e eram a prova da reverência aos anões, que pareciam ser datados de tempos ainda mais antigos do que os primeiro faraós.

Além do nanismo, a fenda palatina – uma condição frequentemente vista como uma deformidade socialmente debilitante hoje em dia – parecia ter sido culturalmente aceite.

A partilha destes casos antigos revela segredos valiosos aos especialistas. Como tal, os organizadores da conferência de Berlim – a paleopatologista Julia Gresky e o bioarqueólogo Emmanuele Petiti – planeiam construir um banco de dados para partilhar estes casos.

“Se os médicos quiserem trabalhar e explorar doenças raras, precisam de pacientes suficientes, caso contrário, trata-se apenas de um estudo de caso. Connosco, passa-se a mesma coisa”, concluiu Gresky.

ZAP //

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