Com o fim dos apoios estatais durante a pandemia que manteram muitas empresas à tona, antecipa-se que haja uma onda de falências em 2023.
Após quatro anos de “anestesia”, devido aos apoios que o Estado deu às empresas como as moratórias dos créditos ou os regimes de lay-off simplificado, o “estado de graça” da economia portuguesa pode ter os dias contados.
De acordo com os especialistas ouvidos pelo ECO, o número de empresas que declara a falência deve disparar entre 20% e 30% em 2023.
As estimativas da Allianz Trade antecipam uma subida de 20% das insolvências. Os culpados? A crise energética, os bloqueios nas cadeias de abastecimento e o aumento de custos de produção causados pela inflação.
Vassili Christidis, CEO da Cosec, considera que o crescimento da inflação, o aumento das taxas de juro, a subida dos custos de produção e a ameaça de recessão na zona euro e nos Estados Unidos geram “incerteza” para 2023.
Os estudos da Allianz Trade, que é accionista da Cosec, sugerem que os preços da energia vão continuar altos em 2023, o que deixa os sectores mais dependentes “numa situação mais vulnerável”. Os pequenos retalhistas, os transportes e a construção estão, assim, particularmente expostos à crise.
O Indicador de Resiliência Financeira indica que mais de 40% das empresas tem um nível elevado ou médio-alto e 26% reduzido ou mínimo. O Risco Failure, que calcula a probabilidade de nos próximos 12 meses uma entidade ir à falência com dívidas por liquidar, prevê que 22% das empresas têm um risco moderado ou elevado.
O cruzamento destes dois indicadores mostra ainda que 11% das empresas têm um nível de resiliência mínimo ou reduzido e com risco failure moderado. “Tal significa que existem 13% de empresas que estão numa situação em que é mais provável não conseguirem resistir à presente crise”, explica a consultora Susana Santos Valente, sócia da PRA – Raposo, Sá Miranda & Associados.
A perita acrescenta que os sectores de alojamento e restauração, imobiliário, retalho e transportes concentram a maior parte desta percentagem de empresas em risco.
Paulo Morais, responsável da Crédito y Caución para os mercados de Portugal e Brasil, aponta para que os números de insolvências chegue mesmo aos 30%. “Com a progressiva extinção dos programas de ajuda estatal e num cenário económico e geopolítico com muitos factores adversos, a tendência é de aumento dos níveis de insolvências para valores superiores aos registados durante a pandemia”, aponta o gestor, que acredita que a situação só deve estabilizar em “meados de 2024”.
O perito acredita que as empresas que se sobreendividaram durante a pandemia estão ainda mais vulneráveis. Um estudo de risco de crédito da Crédito y Caución, realizado no outono de 2022, concluiu que 90% do tecido empresarial português sentiu uma deterioração dos níveis de solvência e liquidez dos seus clientes, com mais de 20% a reportar ter sofrido “incumprimentos significativos” no ano passado.
O inquérito assinala ainda que 74% das empresas portugueses sofreram com a morosidade na sua conta de resultados e 10% temem mesmo não sobreviver. Todos estes indicadores pioraram em comparação com o mesmo estudo feito em 2021.