Porque é que alguns animais se tornam canibais? Hormonas explicam fenómeno

Quando Jay Rosenheim elaborou um plano para proteger os campos de algodão da Califórnia, não imaginava que isso conduziria a uma explosão de canibalismo. Através de uma análise detalhada, conseguiu verificar uma nova hipótese por trás do fenómeno.

Num estudo publicado recentemente na ESA, o entomologista da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos (EUA), relatou que, ao estudar o canibalismo numa espécie Geocoris – um pulgão nativo, conhecido como o inseto de olhos grandes – , concluiu que a escassez de alimentos leva ao aumento de determinadas. Quando elevadas, os animais a atacarem “tudo o que conseguirem agarrar”.

Confrontado com os pulgões de algodão (ou afídeos) – um inseto que suga a seiva das colheitas, deixando para trás bolor e vírus -, Rosenheim e os colegas decidiram expôs-los aos Geocoris. Funcionou durante algum tempo, como avançou um artigo divulgado na Science.

Contudo, à medida que o espaço se tornou escasso nas plantas, os Geocoris deixaram de atacar os afídeos e começaram a caçar os membros da própria espécie, devorando os seus próprios ovos. Tornaram-se “canibais”, disse Rosenheim.

A verdade é que comer a própria espécie é bastante comum no mundo animal, desde as amebas unicelulares às salamandras. Mas nem todas as espécies “lancham” os seus pares, por variados motivos.

Segundo a equipa, o canibalismo é arriscado, principalmente em espécies com garras e dentes afiados. As fêmeas louva-a-deus são famosas por morderem a cabeça dos machos durante o acasalamento mas, ocasionalmente, também o fazem com as outras fêmeas. “Já vi uma fêmea mastigar a perna de outra”, disse Rosenheim.

As doenças também inibem casos de canibalismo. Muitos agentes patogénicos são específicos do hospedeiro, portanto, se um canibal devora um companheiro infetado, corre o risco de apanhar a mesma doença.

Um dos exemplos mais famosos é a propagação de uma doença cerebral rara e fatal denominada kuru, que assolou o povo Fore da Nova Guiné nos anos 50. A patologia assolou a comunidade através de um ritual funerário em que as famílias cozinhavam e comiam a carne – incluindo os tecidos cerebrais contaminados – de parentes falecidos.

Em terceiro lugar, o canibalismo é uma das formas de transmitir os genes, sendo essa uma das principais razões pelas quais os insetos de olhos grandes limitam o tamanho da sua população, comendo a própria descendência. Se crescerem demasiado, acabam por depositar ovos por todo o lado. E, como não conseguem reconhecer os seus próprios ovos, acabam por devorar a sua própria ninhada.

No seu projeto, Rosenheim identificou duas hormonas específicas – a octopamina em invertebrados e a epinefrina em vertebrados – que parecem estar ligadas a taxas crescentes de canibalismo. À medida que os alimentos escasseiam, as quantidades destas hormonas aumentam e os animais atacam tudo o que conseguem agarrar.

O estudo também destacou como certas condições fazem com que alguns jovens anfíbios se transformem em super-canibais e adaptem a sua morfologia, acontecendo algo semelhante com ácaros, peixes e moscas da fruta.

Outras criaturas, tais como o sapo de cana, adotam uma abordagem oposta. Quando os canibais estão à espreita, aceleram o seu crescimento.

Na maioria dos casos, o resultado final do canibalismo é positivo: uma população menor e mais saudável. Por essa razão, Rosenheim não vê o fenómeno como bárbaro. “Quando pensamos no canibalismo nos humanas, recuamos. Mas é um dos principais contribuidores para equilíbrio da natureza”, apontou.

ZAP //

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