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Estudo sobre emboscadas mostra que os lobos têm “truques na manga” (e que os castores são mesmo cegos)

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Uma equipa de investigadores realizou a primeira análise sistemática do comportamento de emboscada dos lobos e descobriu que estes predadores são inteligentes e que os castores têm uma grande falta de habilidade de perceção de perigo.

Enquanto a caça em alcateia de animais grandes como alces e bisontes é comum no inverno, os lobos nas densas florestas boreais da América do Norte e da Eurásia capitalizam a disponibilidade de alimentos no verão caçando castores por conta própria.

Um vídeo da equipa do Voyageurs Wolf Project, em que os investigadores colocaram um lobo de cartão, no qual o castor nem reparou, mostra estes animais não têm a melhor visão quando se trata de avistar lobos à sua espera, mas um animal que passa tão pouco tempo em terra não é uma morte fácil. Daí a questão que a equipa quis responder: como é os lobos os caçam?

Segundo o IFLScience, o grupo teve a sua resposta, mas só depois de mais de 15 mil horas de estudo de campo e 962 tentativas de eventos de predação.

O que os castores carecem em visão, compensam com o nariz e as orelhas. Estudos anteriores mostraram que usam o cheiro para “ver” os predadores. No entanto, do número total de caçadas bem-sucedidas de castores (214), entre 89% e 94% dos locais de emboscada dos lobos eram a favor do vento, o que significa que os castores tinham uma hipótese muito pequena de sentir o cheiro do lobo.

Embora a maioria das observações não tenha colocado castores no menu do jantar dos lobos, isso não quer dizer que a maioria dos lobos era péssima em caçá-los.

“Suspeitamos que, na maioria dessas tentativas de emboscada, os lobos nunca encontraram um castor”, disse Thomas Gable, autor do artigo, em declarações ao IFLScience. “Prever onde os castores estarão em terra a qualquer momento é um desafio e suspeitamos que os lobos muitas vezes esperaram nas áreas e nunca apareceu um castor”.

Para caçar castores, muitos lobos aguardaram entre quatro a 12 horas pelo aparecimento de um castor, tendo um lobo determinado ficado à espera durante 30 horas. Porém, quando se trata desta raça de presas, o sucesso não é tão simples como o elemento surpresa.

“Embora os castores possam parecer presas fáceis de capturar e matar, isso está longe da verdade”, disse Gable. “Matar um castor quando está em terra não é uma tarefa fácil. Os castores são basicamente pedaços de músculos em forma de bola de futebol com uma incrível mordida poderosa e dentes afiados. Sem mencionar que os castores raramente vão para longe da água. Tudo o que os castores precisam de fazer para escapar de um lobo é chegar à água”.

Segundo Gable, este é um provável segundo fator para o grande número de tentativas de emboscada fracassadas.

No inverno, os castores contam com um escudo protetor de gelo para mantê-los protegidos dos lobos. Porém, no verão, estes animais representam o sustento suplementar que os lobos podem derrubar sem o resto da alcateia.

Ter acesso a animais mais pequenos como castores e veados significa que não precisam de muito apoio e a caça sozinha rende mais nutrição em comparação com os esforços do grupo.

Os lobos que Gable estuda passam mais tempo a caçar sozinhos do que em alcateias. Isso demonstra que os benefícios de ser responsável pelo seu suprimento de alimentos superam os custos de ter que partilhar o rendimento com outros animais.

Este trabalho ajuda a continuar a derrubar ideias antigas sobre como os lobos caçam, mostrando que têm mais truques no seu arsenal do que simplesmente ultrapassar e devorar as suas presas.

Este estudo foi publicado na revista científica Behavioral Ecology.

Maria Campos, ZAP //

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