Amnistia Internacional acusa Myanmar de incendiar aldeias rohingyas

A Amnistia Internacional acusa as forças de Myanmar, antiga Birmânia, de estarem a arrasar Rakhine, incendiando vilas e aldeias habitadas pelas comunidades rohingya, forçando-as a fugirem para escaparem da limpeza étnica.

Num relatório intitulado “Myanmar: Militares ganham terreno à medida que as forças de segurança criam bases nas aldeias Rohingya incendiadas”, a organização de direitos humanos documenta através de testemunhos e imagens de satélite a intensificação da militarização do estado de Rakhine.

“O que estamos a assistir no estado de Rakhine é uma conquista de terra pelos militares numa escala dramática. Novas bases estão a ser construídas para abrigar as mesmas forças de segurança que cometeram crimes contra a humanidade contra os rohingya”, criticou Tirana Hassan, diretora de Resposta a Crises da Amnistia Internacional.

Segundo a organização, as forças militares birmanesas estão a construir, nas terras de onde os rohingya se viram forçados a fugir, novas estradas, bases militares e outras estruturas, desde janeiro passado, tornando cada vez mais impossível o regresso dos refugiados às suas casas.

Tirana Hassan afirmou ainda que o repatriamento dos refugiados rohingya presentes no Bangladesh é uma realidade muito distante. “O repatriamento voluntário, seguro e digno dos refugiados rohingya está ainda mais distante. As suas casas foram destruídas”.

Na semana passada, as Nações Unidas alertaram para o facto de a limpeza étnica continuar no estado de Rakhine. O assistente do secretário-geral da ONU para os Direitos Humanos, Andrew Gilmour, sustentou que, apesar de ter sido registada uma redução do grau de violência, as forças de segurança continuam a executar homicídios, violações, torturas, sequestros e a negar alimentos a elementos desta etnia.

“Parece que a violência generalizada e sistemática contra os rohingya persiste”, disse o responsável em comunicado, após visitar alguns dos campos de refugiados do Bangladesh. “A natureza da violência mudou para uma campanha de terror de baixa intensidade e de fome forçada, que parece ter sido elaborada para empurrar os rohingya que ainda estão nas suas casas em direção ao Bangladesh”.

Gilmour também recriminou o governo liderado pela Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, por dizer que está preparado para o regresso dos refugiados quando a violência persiste, frisando que, nas atuais condições, “o retorno seguro, digno e sustentável é impossível”.

Por outro lado, elogiou a resposta humanitária do Bangladesh – um país pobre – e de organismos internacionais face à situação dos rohingya, embora tenha alertado para os “devastadores efeitos” que o início da estação das chuvas trará para os campos de refugiados.

Myanmar, de maioria budista, não reconhece a cidadania aos rohingya, muçulmanos, e submete-os desde há décadas a todo o tipo de discriminações, incluindo restrições à liberdade de movimentos e ao acesso ao mercado de trabalho.

O êxodo dos rohingyas teve início em meados de agosto, quando foi lançada uma operação militar do exército birmanês contra o movimento rebelde Exército de Salvação do Estado rohingya devido a ataques da rebelião a postos militares e policiais.

Perto de 700 mil rohingyas estão refugiados no Bangladesh.

ZAP // Lusa

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