Está a ganhar força nos Estados Unidos um movimento para que as escolas secundárias – as High Schools – comecem as aulas mais tarde, permitindo assim que os alunos tenham mais horas de sono.
A ideia não é nova, mas vem conquistando cada vez mais adeptos com a recente publicação de vários estudos sobre os benefícios de ajustar o início das aulas ao relógio biológico dos adolescentes.
Nos últimos meses, até mesmo o secretário da Educação dos Estados Unidos, Arne Duncan, manifestou apoio ao movimento. “Senso comum para melhorar desempenho estudantil que muito poucos implementaram: deixem os adolescentes dormirem mais, comecem as aulas mais tarde”, disse na sua conta no Twitter.
“Acho que entramos no radar nacional”, disse à BBC Terra Ziporyn Snider, fundadora do movimento Start School Later – Comece a Escola Mais Tarde. Snider é autora de uma petição online, com assinaturas de cidadãos dos 50 Estados americanos, pedindo que o governo proíba as escolas de começar as aulas antes das 8h.
O movimento para atrasar o início das aulas começou em meados dos anos 1990, quando estudos sobre o tema tornaram-se mais populares. Atualmente, de acordo com o Departamento de Educação, 42% das escolas públicas americanas de Ensino Secundário começam as aulas antes das 8h.
“Acreditamos que, com algum tipo de padrão nacional ou estadual seria mais fácil para as escolas enfrentar a oposição à mudança de horário”, afirma Snider, que é doutorada em História da Medicina.
Prós
Segundo vários estudos, quanto mais tarde o horário de início das aulas, melhor o desempenho dos adolescentes.
Nessa idade, além de sentirem mais sono, os adolescentes costumam adormecer mais tarde, por volta das 23h. Com o início das aulas antes das 8h, não dormem as oito horas consideradas necessárias para que tenham um bom desempenho.
Um estudo publicado este mês pela Universidade de Minnesota, comparando dados de 9 mil estudantes de oito escolas em três Estados, concluiu que escolas cujas aulas começavam a partir das 8h35 apresentavam melhores notas, maiores índices frequência e pontualidade.
Muitos alunos nos Estados Unidos, onde a idade mínima para conduzir varia de Estado para Estado, vão de carro para a escola. Assim, até mesmo as taxas de acidentes automobilísticos com motoristas de idades entre 16 e 18 anos foram reduzidas – em até 70% no caso de uma escola que mudou o horário das 7h35 para as 8h55.
O estudo concluiu ainda que estudantes que dormiam menos de oito horas por noite registavam mais sintomas de depressão e uso de cafeína, drogas e álcool.
… e contras
Apesar dos benefícios apontados pelas pesquisas, muitas escolas que tentam atrasar o início das aulas enfrentam resistência das comunidades, que nos Estados Unidos costumam ter a sua vida organizada à volta dos horários escolares.
Entre os principais obstáculos mencionados estão a interferência na prática de desporto, que geralmente ocorre depois das aulas e, assim, sofreria atrasos. Além de dificuldades de reorganizar o cronograma dos autocarros escolares, que costumam fazer mais de uma viagem levando alunos de diferentes ciclos.
Os opositores à mudança também costumam citar o impacto sobre os empregadores que têm estudantes a trabalhar em part-time, além do menor tempo para atividades extracurriculares.
“Mas o problema real é a norma social sobre o sono nos Estados Unidos”, diz Terra Ziporyn Snider, do Start School Later. “Simplesmente não encaramos o sono, o horário escolar e questões de saúde pública como questões importantes.”
ZAP / BBC