Alzheimer: descoberta portuguesa pode melhorar ensaios clínicos

(dr) baycrest.org

Nova caracterização de pacientes com défice cognitivo ligeiro com marcadores de Alzheimer pode ajudar a Ciência.

Cientistas portugueses conseguiram identificar dois subgrupos distintos da doença de Alzheimer.

Essa descoberta pode contribuir para melhorar os ensaios clínicos, fundamentais para o conhecimento e tratamento desta patologia ainda sem cura.

A equipa é internacional, mas liderada por especialistas da Universidade de Lisboa e da Universidade de Coimbra.

O estudo foi realizado para compreender melhor os perfis bioquímicos de doentes diagnosticados com défice cognitivo ligeiro com marcadores de Alzheimer (DCL-DA).

Os muitos ensaios clínicos realizados ao longo dos últimos 10 anos não têm trazido soluções abrangentes para a doença – e isso pode estar relacionado com o facto de “estarmos perante uma população de doentes considerados homogéneos, quando bioquimicamente são heterogéneos, como provado neste nosso estudo”, analisa um dos autores do estudo, Bruno Manadas.

Agora, os investigadores conseguiram mostrar “a presença de subgrupos bioquímicos dentro de um grupo clínico bem definido de indivíduos com défice cognitivo ligeiro com biomarcadores de Alzheimer, o que pode apontar eventualmente para a existência de diferentes mecanismos de origem e progressão da doença”, cita a Universidade de Coimbra em comunicado enviado ao ZAP.

Este estudo também mostra que há mais proteínas – além da beta-amilóide e da tau – que permitem fazer a distinção entre pacientes com DCL-DA e doentes com défice cognitivo ligeiro (DCL) sem marcadores da doença de Alzheimer.

São avanços que podem originar ensaios clínicos com taxas de eficácia mais elevadas, uma vez que trazem nova informação sobre os diferentes perfis bioquímicos da doença.

Para chegarem a esta conclusão, os 262 participantes foram avaliados para identificar se tinham défice cognitivo ligeiro; nos doentes, foi feita a recolha do líquido cefalorraquidiano (o LCR, líquido que circula ao redor das estruturas cerebrais) e posterior caracterização molecular. Assim se verificou quem tinha marcadores para a doença de Alzheimer.

Depois, foram analisados os perfis proteicos dos líquidos cefalorraquidianos. Esta fase revelou que os pacientes podiam ser classificados em dois subgrupos: o grupo de disfunção imunológica e comprometimento de barreira hematoencefálica; e o grupo de alterações de proteínas ligadas à hiperplasticidade.

Ou seja, há pelo menos dois perfis de doentes com Alzheimer em estádios iniciais, que podem ser considerados em ensaios clínicos. Poderão ser divididos consoante o seu perfil bioquímico, em vez de serem avaliados como um grupo único.

A próxima fase é tentar perceber “se estamos perante uma nova classificação de doentes de Alzheimer nas suas fases iniciais”, finaliza Bruno Manadas.

ZAP //

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