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Altice compra Media Capital por 440 milhões (e a seguir quer um banco)

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Jérémy Barande / École polytechnique

Patrick Drahi, proprietário e presidente da Altice – e agora também da Media Capital

A multinacional Altice, dona da PT e da MEO, já chegou a acordo com os espanhóis da Prisa para a compra do grupo Media Capital, detentor da TVI, por 440 milhões de euros. A seguir, a empresa do bilionário francês Patrick Drahi vai apostar num banco online.

Aquele que é um dos maiores negócios do ano, até agora, foi anunciado pela Prisa num comunicado enviado à Comissão Nacional do Mercado de Valores de Espanha.

A empresa espanhola nota que está concretizado o acordo para a venda de 94,6% do capital social da Media Capital por 440 milhões de euros.

“As partes subscreveram um contrato de compra e venda mediante o qual a Prisa transmitirá à MEO – Serviços de Comunicação e Multimédia, S.A., filial da Altice, a totalidade da sua participação na Media Capital que representa 94,69% do seu capital social”, aponta-se no documento.

Numa nota enviada à Lusa, a Altice refere que a compra da Media Capital faz parte da estratégia global do grupo, que se manifesta disposto a oferecer mais conteúdos aos consumidores, apostando em produções e formatos locais.

“A integridade e independência editorial da Media Capital servirá de princípio norteador para os negócios de média da Altice”, refere ainda o comunicado.

A MEO explica, num outro comunicado enviado à Comissão de Mercados e Valores Mobiliários (CMVM), que o objecto da Oferta Pública de Aquisição (OPA) é constituído pela totalidade das 84.513.180 ações, com o valor nominal de 1,06 euros.

O negócio está ainda dependente do parecer da Autoridade da Concorrência e da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

E embora o processo não esteja ainda encerrado, as acções das três intervenientes no negócio dispararam nas respectivas bolsas de cotação. Assim, cerca das 10 horas em Lisboa, as acções da Prisa subiam 15% para 3,16 euros, as da Media Capital avançavam 3,67% para 3,11 euros e as da Altice estavam a valorizar-se 0,45% para 20,14 euros.

Multinacional quer abrir um banco online

E depois deste grande negócio no âmbito dos conteúdos de comunicação, a Altice pretende abrir um banco online, conforme apurou a agência Reuters.

A empresa já terá solicitado uma licença bancária junto do Banco Central Europeu (BCE) para poder avançar com o processo, notando que a estratégia passa por entrar no mundo da banca online até 2019, de modo a actuar no universo dos países europeus onde a Altice está implantada, nomeadamente em Portugal.

A Reuters destaca que este banco online deverá virá a chamar-se Alticebank e que será “uma oportunidade para desafiar os credores tradicionais”, designadamente tendo em conta o crescente uso de smartphones.

Costa teme que Altice origine “novo caso Cimpor”

No patamar político, a Altice é notícia por causa das críticas que o primeiro-ministro português fez à empresa, manifestando a sua apreensão com o futuro da PT nas mãos da multinacional.

No debate do Estado da Nação, António Costa falou ainda dos receios com os postos de trabalho e apontou a uma das operadoras da Altice “falhas graves” no incêndio em Pedrógão Grande.

“Houve algumas que conseguiram sempre manter as comunicações e houve outra que esteve muito tempo sem conseguir comunicações nenhumas – e isso é muito grave”, disse o primeiro-ministro a propósito de uma das operadoras da Altice, sem revelar qual.

Costa também referiu ter receios de que “a forma irresponsável como foi feita aquela privatização [pelo Governo PSD/CDS-PP] possa dar origem a um novo caso Cimpor, com um novo desmembramento que ponha não só em causa os postos de trabalho como também o futuro da empresa”.

Passos Coelho, líder do PSD, reagiu em tom crítico a estas declarações de António Costa, considerando que o primeiro-ministro fez uma “admoestação pública” à Altice.

“Nunca, julgo eu, tinha ouvido um primeiro-ministro atirar-se assim publicamente a uma empresa. Acho que nem o engenheiro Sócrates teve coragem para fazer isto e, actualmente, o primeiro-ministro sente-se com à vontade de poder admoestar publicamente uma empresa privada”, criticou o líder do PSD durante a apresentação oficial do candidato da coligação PSD/CDS-PP/PPM à Câmara de Loures.

“É um péssimo sinal quando um primeiro-ministro e um Governo sentem que podem actuar desta maneira junto de uma empresa em particular”, disse ainda, notando que os sociais-democratas estão “um bocadinho escaldados por ver governos socialistas meterem-se onde não devem” e “ameaçarem aqueles que não vêm ao beija-mão”.

Entretanto, a líder do BE, Catarina Martins, acusou a Altice de “fraude” e de “dobrar a lei”, usando “estratagemas legais para despedir ilegalmente”.

“O Governo disse, e bem, que a empresa não podia despedir utilizando a figura do despedimento colectivo, mas a Altice quer despedir os mesmos trabalhadores utilizando os mais variados subterfúgios legais“, referiu a dirigente bloquista numa conferência-debate em Coimbra.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Ora bolas, ainda ontem o nosso 1º Ministro tinha declarado hostilidade (pessoal) à ALTICE
    Quanto ao seu azedume pessoal, passei a ter um camarada, que eu sou desde o tempo do BAVA, do GRANADEIRO /e das manigâncias destes com José Sócrates,
    Já não acho correcta uma declaração pública que hostiliza uma Empresa que – apesar de tudo – investiu e se dispõe a mais.
    Até porque, no caso das apregoadas falhas em Pedrogão Grande, as falhas do SIRESP eram inevitáveis, um incêndio consome cabos e antenas

  2. A TVI foi propriedade da Prisa. “Desde hace mucho tiempo, el PSOE y Prisa actúan como si fueran una misma cosa, prescindiendo a menudo de sus propias funciones para proteger una cadena de intereses compartidos”.
    Isso explica muita brandura da estação para com os governos de esquerda aliados do PSOE.
    Agora que os Socialistas, Bloquistas e Comunistas atacaram a Altice, creio que acabaram de “comprar” uma cadeia de televisão inamistosa.
    Logo se verá…

  3. Não concordo quase com nada que António Costa faz, mas neste caso ele tem razão.
    A uns anos atrás houve um grupo Francês que começou a comprar de “tudo”, empresas de telecomunicações, entretenimento, cinema, música, editoras, etc. Essa empresa é a Vivendi que mais tarde teve uma enorme falência e teve que ser toda desmantela e milhares de pessoas forma despedidas.
    A Vivendi era uma empresa cuja origem era o negócio das águas e por se ter dispersado tanto acabou por falir.
    A Altice parece ser esse tipo de grupo, com uma origem na área da construção civil e de repente esta interessada em tudo! Só espero que também não tenha o mesmo destino de muitos grandes grupos que têm mais “olhos que barriga”.

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