Pais a recusar trabalho ao fim de semana? É para acabar, diz Governo. E “mama” vai ter limite

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Miguel A. Lopes / Lusa

Tentativa de limitar horário de trabalho flexível contraria STJ e pode vir a mudar completamente a dinâmica de muitas famílias — especialmente as dos pais que trabalham no setor do comércio, saúde e transportes, avisam especialistas.

O Governo está a mudar muita coisa no Código de Trabalho e uma dessas mudanças passa por contrariar a ordem do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e pôr um travão aos pais com filhos menores de 12 anos — ou com doença ou deficiência crónica —, que atualmente podem recusar trabalho ao fim de semana e feriados.

O anteprojeto do Executivo liderado por Luís Montenegro está ainda sujeito a aprovação no parlamento e concertação social, mas implica alterações ao regime de horário flexível, que atualmente permite a estes trabalhadores (a um ou aos dois progenitores) escolher o início e fim do seu horário, com períodos obrigatórios de presença e dentro de limites fixados pelo empregador.

Agora, o Governo quer que o horário flexível seja compatível com a natureza das funções desempenhadas e com o horário de funcionamento da empresa: deve “ajustar-se às formas especiais de organização de tempo de trabalho” da empresa e incluir o trabalho noturno, de fins de semana e feriados.

Na prática, em alguns setores, trabalhadores veem-se impedidos de ter um horário fixo — de segunda a sexta-feira e com fim de semana livre — caso esse horário seja incompatível com as exigências da empresa. Indo para a frente a regra, é o que vai acontecer em setores com horários rotativos como comércio, saúde e transportes.

“Um trabalhador contratado para vendedor de loja com turnos rotativos que englobam horário noturno e fim de semana não vai poder ter um horário fixo de segunda a sexta”, adianta ao Jornal de Negócios Inês Arruda, da área de prática de direito do trabalho.

A sócia da Pérez-Llorca explica que, antes de o STJ confirmar que o horário flexível “não exclui a inclusão do descanso semanal, incluindo o sábado e o domingo” no caso dos pais com filhos menores de 12 anos, a “jurisprudência não era unânime”, mas a partir daí “as empresas já não arriscaram e começaram a aceitar estes pedidos de horários flexíveis”. Quando a situação se tornava incomportável para as empresas “recusavam-se os seguintes [pedidos de horário flexível], criava-se desigualdade entre os que pediram primeiro e os que pediram depois”. E acusa a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) de rejeitar a argumentação das empresas em relação às recusas.

O anteprojeto “limita a possibilidade de trabalhadoras e trabalhadores com filhos até 12 anos solicitarem, e conseguirem, horários flexíveis com dispensa de trabalho aos fins de semana e feriados bem como de trabalho noturno“, explica a presidente da CITE, Carla Tavares.

Limites à licença de amamentação

A proposta de alteração ao trabalho do Governo prevê também um novo limite de dois anos no direito à dispensa para amamentação.

“A mãe que amamenta o filho tem direito a dispensa de trabalho para o efeito até a criança perfazer dois anos”, lê-se no artigo 47.º do mesmo anteprojeto do Governo.

Atualmente, o direito de amamentação não tem limite temporal: “A mãe que amamenta o filho tem direito a dispensa de trabalho para o efeito, durante o tempo que durar a amamentação”, diz a lei.

Passa também a exigir-se um atestado médico desde o início, renovável de seis em seis meses.

A polémica do luto gestacional

A proposta que tem gerado mais “barulho” da oposição — e que deverá enfrentar resistência no Parlamento — é a eliminação da falta (remunerada) de três dias em caso de luto gestacional.

A mãe poderá optar por outra via, a licença por interrupção da gravidez, remunerada entre 14 e 30 dias, “ao invés dos atuais 3 dias”, argumenta o Executivo, enquanto o pai ficará com as faltas para assistência a membro do agregado familiar, que são não remuneradas e limitadas a 15 dias por ano.

No entanto, recorda-se que o regime de assistência à família implica perda de remuneração, adiantou já o Governo. Além disso, a licença de interrupção tem requisitos específicos que nem todas as mulheres trabalhadoras cumprem.

Licenças parentais e prematuridade

A proposta também prevê o alargamento da licença parental para 180 dias com remuneração a 100%, se houver partilha entre os progenitores. No caso de uma licença de 150 dias, a remuneração desce para 90% se houver partilha.

Estão também previstas alterações ao conceito de prematuridade, que passa a considerar nascimentos até às 37 semanas (antes era 33).

Tomás Guimarães, ZAP //

21 Comments

      • Nem eu disse que eram. Mas certamente o meu amigo está bem na vida e não precisa de apoios sociais aos mais fracos. Nem precisa de saúde nem justiça. Paga por ela com o salário acima da média que aufere, fruto dos seus múltiplos conhecimentos dentro e fora do governo não é?

        Sabe, isso acaba por ser a definição de bolchevismo e de fascismo ao mesmo tempo.

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      • Amigo. Ataque “ad hominem” é o que faz quem não tem argumentos! Você só tem ganância, ódio e mentira do seu lado. Como chega a algum lado assim?

    • Uns pensam que são filhos do estado, outros pensam que são filhos do patrão e outros ainda montam o seu próprio negócio para serem independentes e depois ver o fruto do seu esforço ser sugado pelo estado em taxas e impostos altíssimos. Onde é que ficamos?

  1. Pelo menos os bolcheviques tinham em conta os horários das famílias, os direitos de acompanhamento a filhos menores, entre outros direitos de trabalho que permitem a que não se reduza à condição de escravo das empresas… Se era pior do que esta gente… Ainda estamos aqui para ver

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    • Credo … Não seja idiota. No bolchevismo existe o mesmo tipo de corrupção que no fascismo destes senhores. Não poderemos ter um meio termo???

    • Só oiço falar em direitos, mas nunca em deveres por parte dos trabalhadores. Em reclamar direitos, a Esquerda é exímia. Em trabalhar, bom, esse vocabulário não interessa nem é para aqui chamado.

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    • Totalmente de acordo Carlos. Mas a cerne da questão prende-se com ignorância. E infelizmente temos um povo pobre e cada vez mais ignorante. Todos tem acesso à informação é só uma questão de procurar. Vejam a definição de esquerda e direita. O Chatgpt até pode dar uma ajuda, para os mais lerdos.

    • Caro, quando o pobre deste país é levado a odiar o pobre que vem do estrangeiro … asseguro-lhe que há um ricaço em algum lugar a esfregar as mãos de contente com o ódio que conseguiu despertar! E esse mesmo ricaço vai assegurar-se de empregar os dois pobres pelo menor salário possível, fruto desse mesmo ódio!

    • Caro, você tem pele no jogo? É que da maneira que fala duvido muito que seja mais do que um comentador pago. Ah, e devia visitar o Leste como diz … De estado socializante não resta muito por aqueles lados ao contrário do que lhe diz o homem do fato e gravata na televisão.

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    • Acho que também deve ser obrigatório trabalhar até morrerem e nada de férias! O algodão não se vai apanhar sozinho!

  2. BORIS ALATOV você é um ressabiado…. Se estivesse a trabalhar e a produzir no duro, não falaria assim, teria as suas recompensas e e sentir-se-ia realizado… O trabalho feito a preceito, cria riqueza e desenvolvimento pessoal. Nunca fez mal a ninguém! Inclua-se no« trabalhar até morrermos» e não deseje só para os outros. E deixe o algodão no sitio onde ele cresce!
    Vá fazer qualquer coisa….vá passear!

    • Alatokrap … Que será o que se apreende do seu discurso. Já trabalhei mais duro do que você alguma vez chegará a trabalhar e deixo obras que perdurarão além da minha morte. Digamos que acho que o modelo da democracia grega (com todas as suas falhas) era bem mais democrático do que a ditadura que actualmente temos. Você divida o seu dia em 7 horas para dormir, 10 horas para ser abusado por um patrão, 2 horas para ser abusado pelo trânsito e 2 horas para comer e verá que não lhe sobra muito tempo para pensar e tentar melhorar o mundo. Pelo menos os gregos tinham o bom senso de se dedicar à filosofia assim que se emancipavam e deixavam de necessitar de trabalhar.

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  3. Oh Sr Boris, você tem 2 h para comer??? Sempre assim, certinhas? Como o invejo! no meu percurso laboral as horas das refeições acontecem quando há tempo e mesmo assim quase sempre a correr… a saúde , por vezes, ressente-se, mas faço sempre o que me dá gozo e vou muito mais além da filosofia, trabalhando sem contar horas ou dias… Esqueça ressentimentos e tente aproveitar a vida! Seja feliz!! FIM :)))

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