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Cientistas leram pergaminho sagrado sem o abrir

Staatliche Museen zu Berlin, Ethnologisches Museum / Martin Franken

Os três minúsculos pergaminhos encontrados há quase 100 anos

Com a ajuda de IA, raios-X e um acelerador de partículas, os cientistas “desenrolaram virtualmente” e conseguiram ler um documento encontrado há um século num relicário mongol.

Finalmente, depois de quase um século, um pergaminho budista encontrado dentro de um pequeno relicário mongol foi lido. Mas ninguém o abriu.

No documento, guardado no Museu Nacional de Berlim, estava um antigo mantra escrito em sânscrito, que foi lido pela equipa com a ajuda de tecnologia avançada de imagem por raios X e inteligência artificial (IA)… sem tocar fisicamente no objeto histórico, identificado como um Gungervaa.

Um Gungervaa é um altar portátil tradicionalmente usado por famílias budistas da Mongólia. Com pouco mais de meio metro de altura, o relicário foi recolhido durante uma expedição nos anos 1930 e levado para a Alemanha, onde foi praticamente ignorado durante décadas.

Durante uma recente inspeção no Museu Nacional de Berlim, a restauradora Birgit Kantzenbach descobriu, no interior do relicário, três minúsculos pergaminhos cuidadosamente enrolados em seda amarela. Do tamanho de um fósforo, compara o ZME Science, estavam demasiado frágeis para serem abertos manualmente sem risco de destruição.

Foi então que o físico Tobias Arlt, do Helmholtz-Zentrum Berlin, propôs utilizar tecnologia de tomografia por raios X — semelhante à usada para analisar baterias de lítio — para visualizar o interior dos pergaminhos sem os danificar. Com a ajuda do acelerador de partículas BESSY II, os investigadores obtiveram milhares de imagens que, posteriormente, foram processadas com software especializado para reconstruir e “desenrolar” virtualmente o conteúdo dos pergaminhos.

O resultado surpreendeu: linhas de texto surgiram em caracteres tibetanos, mas redigidas em sânscrito — uma combinação linguística invulgar que poderá ser indício práticas rituais específicas da época ou região. Entre os fragmentos legíveis, lia-se o célebre mantra “Om Mani Padme Hum”, que pode ser traduzido como “Louvor à joia no lótus”, e está associado à compaixão e aceitação na tradição budista tibetana.

A tinta usada para escrever o mantra também intrigou os cientistas: parece ter partículas metálicas, o que é raro, uma vez que a tinta tradicional chinesa era feita de fuligem e cola animal, invisível aos raios X. A equipa especula que essas partículas possam conter cinzas ou poeira óssea de lamas venerados, segundo o estudo publicado na Journal of Cultural Heritage.

Os pergaminhos fazem agora parte da exposição “Restauro em Diálogo” no Fórum Humboldt, em Berlim, até junho de 2026, mas o museu diz ter planos para devolver o relicário à Mongólia.

ZAP //

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