Um raio que no outono de 2017 se mostrou nos céus pelo céu do Texas até ao Kansas bateu oficialmente o recorde mundial de “raio com maior comprimento” de que há registo: mais de 800 km.
Durante uma tempestade de grandes dimensões, em outubro de 2017, uma colossal descarga de eletricidade serpenteou pelas Grandes Planícies da América do Norte através de 830 quilómetros — uma distância que superou o recorde anterior em 61 quilómetros.
Esta distância é próxima da que separa Lisboa, no extremo sudoeste da Península Ibérica, de Barcelona, na ponta noroeste: o raio poderia ter atravessado a península de lés a lés.
“Este é o tipo de fenómeno a que chamamos raio megaflash, e estamos apenas agora a descobrir os mecanismos de como e porquê ocorre”, diz Randy Cerveny, cientista geográfico da Universidade do Estado do Arizona e da Organização Meteorológica Mundial, em comunicado da OMM.
“É provável que existam extremos ainda maiores, e que sejamos capazes de os observar à medida que medições de raios de alta qualidade se acumulem ao longo do tempo”, acrescenta Cerveny.
O raio é um dos fenómenos mais impressionantes da Terra. Ocorre quando condições turbulentas na atmosfera agitam partículas, friccionando-as para gerar carga. Eventualmente, acumula-se tanta carga que tem de ir para algum lado, produzindo uma descarga de milhões de volts pelo céu.
O raio com a maior distância horizontal anteriormente conhecida foi registado a 29 de abril de 2020, quando um megaflash nuvem-para-nuvem cobriu uma distância de 768 quilómetros através de partes do Texas, Louisiana e Mississippi.
Georgia Tech Research Institute

Animação baseada em dados do relâmpago mais longo do mundo
Estes dois recorde foram detetados com os satélites meteorológicos geoestacionários GOES-16 e GOES-17 da agência oceânica norte-americana NOAA, que estão equipados com Mapeadores de Raios Geoestacionários (GLMs) que monitorizam continuamente o céu em busca de raios extremos.
O GOES-16 foi lançado no final de 2016, e conseguiu registar a tempestade gigante de outubro de 2017, mas o megaflash não tinha sido identificado, explica o Science Alert.
Recentemente, uma equipa liderada por Michael Peterson, cientista atmosférico do Centro de Investigação de Tempestades Severas do Instituto de Tecnologia da Geórgia, revisitou os dados na altura recolhidos, e identificou o fenómeno.
O trabalho da equipa foi apresentado num artigo publicado nesta quinta-feira no Bulletin of the American Meteorological Society.
A maioria dos raios são relativamente pequenos, com menos de 16 quilómetros de comprimento, e têm tendência para se expandir verticalmente. Mas alguns viajam horizontalmente através das nuvens, e se o complexo de nuvens for particularmente grande, podem dar origem a raios gigantes.
Qualquer coisa com mais de 100 quilómetros de comprimento é considerada um megaflash — cuja identificação é um trabalho minucioso, que envolve juntar dados de satélite e terrestres para reconstruir a extensão do evento em três dimensões.
Esta abordagem ajuda a determinar que o megaflash é uma única descarga de um raio, bem como medir quão grande é. Como a descarga está frequentemente, pelo menos parcialmente, obscurecida por nuvens, é fácil perder estes megaflashes.
Não é coincidência que ambos os megaflashes tenham ocorrido sobre as Grandes Planícies. Esta região é um importante foco para as tempestades de sistema convectivo de mesoescala, que são mais propícias aos megaflashes.
Portanto, se o recorde for quebrado no futuro — o que é uma forte possibilidade — será provavelmente na mesma região.