Max Cavallari / EPA

Inundações em Emilia-Romagna
Das tempestades aos problemas de saúde, as alterações climáticas estão a causar uma onda de mudança na indústria de seguros.
Demos recentemente conta aqui no ZAP de que os bancos já tinha começado a perceber os efeitos do clima no setor imobiliário — em particular a sua influência nas aprovações de empréstimos.
Agora, também a indústria dos seguros começa a sentir o impacto que as alterações climáticas pode ter na sua atividade, conta o ZME Science.
No início de 2025, em apenas três meses, as seguradoras do Reino Unido pagaram um recorde de cerca de 270 milhões de euros em indemnizações de seguros residenciais relacionadas com o clima.
Em janeiro, a tempestade Eowyn atingiu a Irlanda e a Escócia, deixando quase um milhão de casas sem energia. Este foi o oitavo trimestre consecutivo em que as indemnizações por danos em propriedades excederam os 118 milhões de euros.
O Reino Unido não é uma exceção.
Do outro lado do Atlântico, os proprietários de casas no Texas enfrentam um aumento de 43% nos prémios de seguros desde 2023. Até 2025, espera-se que a apólice média custe mais 443 euros anualmente.
As seguradoras pagaram 36,4 milhões de euros em perdas por catástrofes nos últimos cinco anos no Texas, principalmente devido a tempestades de granizo, furacões e inundações. Na Califórnia, grandes seguradoras deixaram de emitir novas apólices, em grande parte devido aos riscos de incêndios florestais.
As alterações climáticas estão a desestabilizar a indústria de seguros, tornando a cobertura inacessível ou indisponível em áreas de alto risco.
A tempestade já chegou
Apesar das evidências científicas esmagadoras, as alterações climáticas ainda são descartadas por alguns como uma farsa ou uma ameaça distante que não os afetará pessoalmente. Esta conceção errada está perigosamente desalinhada com a realidade.
Os desastres provocados pelo clima já estão a perturbar vidas, economias e indústrias em todo o mundo — desde inundações recorde na Alemanha e no Paquistão, a incêndios florestais na Califórnia e na Grécia, a ondas de calor que matam milhares de pessoas em toda a Europa.
Os mercados de seguros, outrora pilares estáveis da gestão de riscos, estão agora a ceder sob o custo destes eventos.
Regiões inteiras estão a tornar-se demasiado arriscadas para segurar, e os prémios estão a disparar para milhões de pessoas. Longe de ser uma preocupação futura, as alterações climáticas são uma crise atual, a remodelar os sistemas financeiros de que dependemos para recuperar de desastres.
O modelo de seguros baseia-se na distribuição do risco por muitos segurados. Mas as alterações climáticas estão a aumentar a frequência e a gravidade dos desastres, levando a indemnizações e prémios mais elevados.
Em 2023, as catástrofes naturais causaram 337 mil milhões de euros em perdas totais globalmente, com apenas 105 mil milhões de euros cobertos por seguros.
As resseguradoras, que fornecem cobertura de apoio às seguradoras, estão a aumentar os preços e a apertar os termos — o que se repercute nos consumidores através de prémios mais elevados ou coberturas canceladas. Em alguns casos, regiões inteiras estão a tornar-se não seguráveis.
As pequenas e médias empresas são especialmente vulneráveis; muitas estão agora a ver os prémios dos seus seguros para proprietários de negócios a disparar ou as suas coberturas canceladas após desastres climáticos consecutivos.
O “fosso de proteção” — a crescente divisão entre as perdas totais e o que o seguro realmente cobre — é especialmente acentuado nos países em desenvolvimento, onde mais de 90% das perdas por desastres não estão seguradas.
Mesmo em nações mais ricas, as seguradoras estão a retirar-se de zonas de alto risco, deixando mais pessoas e empresas expostas.
Apesar do avassalador número de estudos científicos que evidenciam a aceleração das alterações climáticas e a gravidade das suas consequências, não falta quem negue estas evidências — de indivíduos e empresas a políticos proeminentes e governantes.
Nenhuma prova científica é capaz de contrariar uma opinião pré-concebida e enraizada. Mas há uma “força da natureza” capaz de o fazer: o dinheiro.
E à medida que as consequências das alterações climáticas começam a custar mais — diretamente no bolso das pessoas ou no valor dos ativos — do que combatê-las, os negacionismos tenderão a tornar-se ativismos.
Os bancos já o perceberam. As seguradoras também.