A subida do nível do mar, o colapso da biodiversidade e as condições climatéricas extremas são consequências bem conhecidas das alterações climáticas. No entanto, estudos recentes destacam outro impacto significativo: a influência nas aprovações de empréstimos nos EUA.
Um novo estudo, publicado no início deste ano na Journal of Empirical Finance, revela que as aprovações de empréstimos para investimentos imobiliários caem após períodos de tempo mais quente do que o normal.
Por cada aumento de 1 grau Celsius acima das temperaturas médias, as aprovações caíram quase 1% e o seu valor diminuiu mais de 6,5%.
Segundo os autores do estudo, esta tendência não se deve apenas à diminuição da procura por parte dos consumidores.
A principal causa desta queda é a preocupação dos agentes de crédito com as alterações climáticas e o seu potencial impacto nos ativos para os quais estão a conceder empréstimos, desvalorizando efetivamente as propriedades em tempo real.
A preocupação não se limita ao aumento das temperaturas. As propriedades costeiras, como as de Outer Banks, na Carolina do Norte, enfrentam riscos significativos devido à subida do nível do mar e à erosão.
Nos últimos quatro anos, conta a Wired, seis casas ao longo do Cape Hatteras National Seashore sucumbiram ao mar. Esta tendência está a levar os credores a tornarem-se cada vez mais cautelosos em relação às hipotecas destas propriedades.
Os fenómenos meteorológicos extremos, incluindo incêndios florestais, furacões e inundações, também dificultam o acesso a serviços financeiros para os proprietários de casas.
A obtenção de um seguro de habitação no Minnesota, por exemplo, tornou-se mais difícil devido às recentes tempestades extremas de granizo no estado norte-americano.
O sector financeiro global está agora a começar a reconhecer a magnitude do problema. Os bens imóveis, avaliados em cerca de 350 mil milhões de euros em todo o mundo, representam a maior reserva de riqueza do planeta — quatro vezes o PIB mundial.
No entanto, os imóveis em zonas de alto risco começam agora a emergir como ativos tóxicos — e os credores estão a tornar-se mais cautelosos quanto ao financiamento destes ativos.
Na região da Ásia-Pacífico, quase uma em cada dez propriedades detidas por fundos de investimento imobiliário poderá estar em risco elevado de sofrer danos relacionados com as alterações climáticas, especialmente as que se situam em frentes marítimas.
Alguns bancos começam também agora a abordar diretamente este tipo de riscos com os seus clientes. É o caso, por exemplo, do HSBC UK, no Reino Unido, que explica no seu site o impacto que as alterações climáticas podem ter nos empréstimos e hipotecas.
No entanto, os compradores nem sempre são informados sobre os riscos a médio e longo prazo, nem o montante que pedem emprestado é necessariamente analisado no que respeita à potencial desvalorização futura das suas casas.
Apesar destes riscos, muitas pessoas continuam a comprar propriedades costeiras, pagando frequentemente preços mais elevados — o que leva alguns negacionistas das alterações climáticas a argumentar que, se os bilionários estão a comprar estas propriedades, as alterações climáticas devem ser uma farsa.
Este argumento ignora a crescente consciencialização e resposta das instituições financeiras aos riscos. Os bancos tendem a ser muito racionais na análise do que fazem com o seu dinheiro.
Muito antes das instituições financeiras, os cientistas do clima têm dado o alarme. A geóloga Laura Moore, professora da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, alertou, há mais de uma década, para os riscos que corriam as propriedades em Outer Banks.
Estas casas estão agora a desmoronar-se devido às tempestades e à subida do nível do mar, o que indica que outras zonas costeiras poderão em breve enfrentar destinos semelhantes.
Os bancos têm sido lentos a oferecer produtos para ajudar os proprietários a atenuar os riscos relacionados com o clima através de melhorias estruturais ou de defesas contra inundações e incêndios florestais.
No entanto, há sinais de mudança gradual. O sector financeiro está a começar a apoiar imóveis energeticamente eficientes, o que pode melhorar a capacidade de pagamento dos empréstimos por parte dos proprietários e reduzir as emissões de carbono associadas às suas carteiras de imóveis.
Estão também a surgir produtos destinados a iniciativas ecológicas ou energeticamente eficientes, que oferecem melhores taxas de juro ou bónus aos compradores de imóveis energeticamente eficientes.
Estes produtos podem incentivar os proprietários a renovar as suas propriedades, tornando-as mais resistentes às alterações climáticas.
Também as empresas de energia limpa estão a beneficiar desta mudança. Por exemplo, a Aira, empresa sueca especializada na instalação de bombas de calor, obteve um empréstimo de 200 milhões de euros do BNP Paribas para ajudar os clientes a financiar as suas bombas de calor.
Em última análise, as alterações climáticas obrigarão algumas pessoas a deslocar-se. Os empréstimos a preços acessíveis podem ser direcionados para as pessoas em risco, ajudando-as a mudarem-se para zonas mais seguras.
Os credores que ignoram estas realidades e continuam a financiar propriedades vulneráveis podem acabar por se arrepender das suas decisões. E à medida que os impactos climáticos se intensificam, o sector financeiro tem de se adaptar para proteger tanto os ativos como os indivíduos, realça a Wired.
Apesar do avassalador número de estudos científicos que evidenciam a aceleração das alterações climáticas e a gravidade das suas consequências, não falta quem negue estas evidências — de indivíduos e empresas a políticos proeminentes e governantes.
Nenhuma prova científica é capaz de contrariar uma opinião pré-concebida e enraizada. Mas há uma “força da natureza” capaz de o fazer: o dinheiro.
E à medida que as consequências das alterações climáticas começam a custar mais — diretamente no bolso das pessoas ou no valor dos ativos — do que combatê-las, os negacionismos tenderão a tornar-se ativismos.
Os bancos já o perceberam.
Agora que está a mexer com o mercado imobiliário, se calhar, mas só mesmo secalhar, vai haver preocupação com o meio ambiente porque os activos já não estão a dar lucro..pessoas triste e desumanas, só quando mexe com o dinheiro delas é que se preocupam. Até aqui foi sempre a construir e investir em empreendimentos como os da península de Tróia. Se calhar com a subida do mar, esses também vão considerar porque o investimento vai perder valor.