Oposição quer eleições já em Janeiro, Scholz prefere adiar para o início da Primavera – será por causa da falta de papel?
A Alemanha está envolvida numa crise política que não se verificava há muitos anos.
Na semana passada Olaf Scholz demitiu o ministro das Finanças, Christian Lindner – que também é líder do FDP, o partido liberal que integra (ou integrava) a coligação que forma o Governo.
A coligação “semáforo” ainda não caiu, mas é praticamente certo que vai cair. Já se fala sobre a data das novas eleições.
Há dois problemas. O primeiro é o calendário – a oposição quer eleições rapidamente, Scholz quer só em Março. Antes tentará aprovar o Orçamento para 2025 e apresentará uma moção de confiança no Bundestag, o Parlamento alemão.
O segundo problema é uma situação caricata: o debate político passou a estar centrado… no papel.
Qual papel?
A pergunta é: há papel suficiente para criar boletins de voto se as eleições forem já em Janeiro?
Não, não é uma anedota. Ruth Brand, presidente da comissão de eleições da Alemanha, disse neste sábado que “no mundo de hoje é um grande desafio adquirir realmente o papel e executar as encomendas de impressão”.
E já escreveu ao chanceler Olaf Scholz sobre o assunto: realizar eleições logo após um período de férias (Natal e Ano Novo) traria “riscos incalculáveis”.
A CDU é um dos partidos que quer eleições em Janeiro. O seu deputado Thorsten Frei avisa: “Devemos ter cuidado para não nos tornarmos ridículos a nível internacional com um debate a este nível”.
Já nesta segunda-feira, no canal ZDF, o líder da associação comercial da indústria do papel da Alemanha, Alexander von Reibnitz, negou essa possibilidade: “Temos papel”.
“A indústria alemã do papel é muito produtiva… podemos entregar desde que a encomenda seja feita atempadamente“, completou.
Pedro Cordeiro fez uma comparação, no Expresso: “Faz-me lembrar o início da pandemia, quando as pessoas iam a correr para o supermercado para comprar papel. É uma questão completamente ridícula. Mal estaríamos nós se a Alemanha não tivesse papel para fazer uma eleição em Janeiro. Um Governo que não consegue garantir isso mais vale fechar já”.
Mais a sério, o especialista em assuntos internacionais avisa que o partido de Scholz (SPD) e a CDU vão ter de se entender: “Um acordo que permita aprovar o Orçamento para 2025 e realizar depois as eleições”.
“Este Governo já não governa, até porque o chanceler está a prazo. Poucos acreditam que Olaf Scholz será de novo chanceler. A sua autoridade política caiu com a queda desta coligação”, destacou o comentador.