A Alemanha pode falhar o seu objetivo de doar 100 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 a países mais pobres.
Um funcionário do ministério da saúde alemão revelou, numa carta a Bruxelas, que a Alemanha pode falhar o objetivo de doar milhões de vacinas contra a covid-19, devido às condições impostas pelos fabricantes e a falhas na entrega.
Os 100 milhões de doses representam metade do total prometido pelos Estados-membros da União Europeia (UE) aos países mais pobres este ano, segundo a Comissão Europeia.
Esta terça-feira, o ministério dos negócios estrangeiros alemão afirmou que o país apenas doou, até à data, pouco mais de 17% desse montante.
Numa carta enviada esta segunda-feira à Autoridade de Preparação e Resposta de Emergência da Saúde da Comissão Europeia (HERA, na sigla em inglês), o secretário de estado da saúde, Thomas Steffen, disse que havia “problemas burocráticos, logísticos e legais contínuos” impostos pelos fabricantes aos países da UE que pretendiam doar vacinas excedentárias.
Steffen disse que estes fatores tornaram “quase impossível uma resposta rápida aos pedidos internacionais de ajuda”.
A carta é a mais recente prova das tensões que existem entre os governos e os fabricantes de vacinas, no que diz respeito à doação de doses excedentárias, escreve ainda a Reuters.
A UE e os países ricos, cuja maioria dos cidadãos mais vulneráveis já foi vacinada, estão sob pressão da Organização Mundial da Saúde para entregar mais doses às nações pobres, muitas das quais inocularam apenas uma fração da sua população.
“Com o aumento dos excedentes de vacinas em muitos estados membros, em breve estaremos perante uma situação de emergência de atribuição global”, escreveu o secretário de estado da saúde alemão.
“Alguns países poderiam ser forçados a desperdiçar grandes volumes de vacinas valiosas, urgentemente necessárias noutras partes do mundo”, continuou.
De acordo com o documento, os obstáculos postos pelos fabricantes de vacinas incluíam preços mínimos de venda, pagamentos onerosos de compensação exigidos aos países beneficiários e restrições à distribuição a organizações internacionais.
Além disso, o planeamento tornou-se ainda mais difícil devido a alterações nos volumes de entrega previstos e datas de validade das doses de vacinas.
Thomas Steffen revelou ainda que a AstraZeneca e a Johnson & Johnson, juntas, só poderiam entregar até 50 milhões de doses das suas vacinas ainda este ano, o que significa que a Alemanha também teria de doar vacinas Pfizer/BioNTech e Moderna, que são os pilares da sua campanha de vacinação.
Em resposta, a Johnson & Johnson disse que ajudaria os países com doses excedentárias a doá-las a outros países, utilizando a instalação internacional COVAX, desde que os países cumprissem os requisitos de segurança, legais, regulamentares e logísticos.
A AstraZeneca disse, por sua vez, que estava a apoiar doações para além de acordos de fornecimento regulares com países individuais e a COVAX, e disse que tinha ajudado com cerca de 85% de todas as doações na Alemanha até à data.
“A doação de vacinas é um processo administrativo complexo com longos prazos de entrega que estão fora do controlo dos fabricantes de vacinas”, acrescentou a farmacêutica.
Os países da UE prometeram doar vacinas AstraZeneca e Johnson & Johnson, tendo em conta que muitos restringiram a sua utilização devido a casos muito raros de coagulação do sangue.