Ajuda a ucranianos na Polónia “parou”, mas o medo da morte impede regresso a casa

Vitaliy Hrabar / EPA

Refugiados ucranianos na fronteira com a Polónia.

Refugiados ucranianos na fronteira com a Polónia

Um ano e meio depois da invasão russa, muitos ucranianos já voltaram para casa, mas mais de um milhão ficou na Polónia, que se tornou fulcral no acolhimento de refugiados e ainda continua a receber novas pessoas que fogem dos mísseis do Kremlin.

Para os ucranianos, a Polónia é um misto de casa, alfândega e ponte de passagem para o resto da Europa. Desde a invasão de larga escala, quase 15 milhões de pessoas com origem na Ucrânia passaram a fronteira com a Polónia como destino.

No entanto, muita gente já fez o caminho oposto. De acordo com as autoridades polacas, cerca de 13 milhões de pessoas entraram na Ucrânia pela fronteira polaca. Pelo menos três milhões de ucranianos vivem hoje no país vizinho — incluindo os que já viviam antes da guerra — e mais 1 milhão e 300 mil que vieram depois de fevereiro de 2022. E ainda continuam a chegar.

“Estamos a dar menos ajuda na Polónia”

“Temos 300 a 400 novas pessoas a pedir ajuda todos os meses, o que significa que ou são recém-chegados a Varsóvia ou então têm novas questões por resolver”, explica Dominika Chylewska, da Cáritas polaca, que tem registo diário de cerca de 50 mil pessoas na base de Varsóvia.

“Esta ajuda é muito individualizada. Estamos a dar menos ajuda na Polónia, enquanto antigamente víamos pessoas com sacos enormes de comida com vários produtos nas estações de comboios. Neste momento trata-se, por exemplo, de dar apoio a alguém que quer arranjar um apartamento ou um trabalho, ou a resolver algum assunto jurídico”, sublinha a diretora de comunicação da organização.

Muitos refugiados ucranianos acabaram por conseguir trabalho nas próprias estruturas humanitárias polacas. É o caso de Tanya, de 26 anos, que chegou à Polónia vinda de Lviv com uma filha de um ano e meio nos braços. O marido já trabalhava na Polónia e Tanya começou a gerir um projeto da Fundação Nidaros, que em Cracóvia ajuda os que vêm da Ucrânia.

Com uma experiência contrária face à Cáritas, Tanya diz que agora, fora do pico da crise humanitária, precisa de alimentar as 50 pessoas a que dá abrigo.

“No princípio houve muita ajuda, mas em determinada altura parou. Pararam de nos ajudar, provavelmente cansaram-se de termos aqui gente que precisa de ajuda. Já não tenho o tipo de apoios que tinha no início”, disse a coordenadora da Fundação Nidaros.

Com uma estrutura muito pequena, que dá habitação e comida numa moradia de Cracóvia, a fundação assistiu cerca de 2000 pessoas e ajudou 100 ucranianos a arranjar emprego desde o início da invasão.

Dois mundos diferentes na ajuda aos ucranianos

Se a Cáritas diz que há procura para as aulas de Polaco — a língua que dá mais acesso a trabalho e habitação — a Fundação Nidaros afirma que nem todos conseguem aprender e vão ficando. As mulheres que trabalham fazem limpezas, com um salário mínimo que ronda os 600 euros.

Todos querem voltar para a Ucrânia depois da guerra, mas para já conjugam apenas o verbo “ficar”. Tanya não quer regressar, para já, a Lviv, mesmo sabendo que é uma cidade “mais calma” na Ucrânia.

“É um país em guerra e nunca se sabe quando um míssil cai em Lviv. Houve muitos casos de rockets que caíram em zonas residenciais. Por isso, temo pela vida da minha filha e, para já, vamos ficar aqui”, remata a jovem ucraniana de momento a viver em Cracóvia, na Polónia.

RFI //

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