Primeiro grande Óscar para o Brasil – mas não foi o primeiro filme em português a vencer o prémio

Allison Dinner / EPA

Walter Salles recebe Óscar de Melhor Filme Estrangeiro: “Ainda estou aqui”

“Ainda estou aqui” vence Óscar de Melhor Filme Internacional, numa noite em que o grande protagonista foi o filme “Anora”.

“Anora”, de Sean Baker, venceu o Óscar de Melhor Filme na 97.ª edição dos Óscares da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

A 97.ª edição dos Prémios da Academia decorreu esta noite no Dolby Theatre, em Hollywood, com 52 filmes nomeados em 23 categorias.

A par de “Anora”, estavam indicados para Melhor Filme “O Brutalista”, “A Complete Unknown”, “Conclave”, “Duna: Parte Dois”, “Emilia Pérez”, “Nickel Boys”, “A Substância”, “Wicked” e “Ainda estou aqui”, de Walter Salles.

Adrien Brody, por “O Brutalista”, e Mikey Madison, por “Anora”, são os vencedores dos Óscares de Melhor Ator e de Melhor Atriz.

Para Melhor Atriz estavam igualmente nomeadas Cynthia Erivo, por “Wicked”, Karla Sofía Gascón, por “Emilia Pérez”, Demi Moore, por “A Substância”, e Fernanda Torres, por “Ainda estou aqui”.

Timothée Chalamet, por “A Complete Unknown”, Colman Domingo, por “Sing Sing”, Ralph Fiennes, por “Conclave”, e Sebastian Stan, “The Apprentice – A História de Trump”, eram os outros nomeados para Melhor Ator.

Sean Baker venceu o Óscar de Melhor Realização, por “Anora”.

Tudo somado, “Anora” foi o filme protagonista da noite, ao conquistar cinco Óscares: Melhor Filme, Realização, Argumento Original e Montagem (todos para Sean Baker) e melhor atriz (Mikey Madison).

 

O Óscar de Melhor Fotografia/Cinematografia foi para “O Brutalista”, o primeiro para o filme de Brady Corbet, que somava dez nomeações. O segundo Óscar conquistado por “O Brutalista” foi o de Melhor Banda Sonora Original.

 

Melhor Guarda-Roupa seguiu para “Wicked”, Melhor Caracterização para “A Substância” e a Melhor Canção Original foi “El Mal”, de “Emilia Pérez”.

“No other land”, filme coletivo feito por ativistas e cineastas israelitas e palestinianos, sobre a ocupação de territórios palestinianos por Israel, conquistou Óscar de Melhor Documentário em Longa-Metragem.

O Óscar de Melhor Documentário em Curta-Metragem foi para “The Only Girl in the Orchestra”, vencendo sobre “Death by Numbers”, “I Am Ready, Warden”, “Incident” e “Instruments of a Beating Heart”.

O Óscar de Melhor Curta-Metragem em ‘Live Action’ foi para “I’m Not a Robot”. Estavam também nomeados “Anuja”, “A Lien”, “The Last Ranger” e “The Man Who Could Not Remain Silent”.

“Duna: Parte Dois” conquistou os Óscares de Melhor Som e Melhores Efeitos Especiais, deixando para trás “A Complete Unknown”, “Emilia Pérez”, “Wicked” e “Robot Selvagem”, no primeiro caso, e “Alien: Romulus”, “Better Man”, “O Reino do Planeta dos Macacos” e “Wicked”, no segundo.

Primeiro prémio para o Brasil

“Ainda estou aqui”, de Walter Salles, conquistou o Óscar de Melhor Filme Internacional.

Pela primeira vez, um filme totalmente brasileiro consegue este importante troféu.

O realizador brasileiro Walter Salles, que venceu esta noite o primeiro Óscar de sempre do Brasil com o filme “Ainda Estou Aqui”, considerou que este reconhecimento é para a cultura e o cinema brasileiros, que hoje ecoa pelo mundo.

“Não é um filme que é reconhecido, é a cultura que está a ser reconhecida, é a forma como fazemos cinema no Brasil, é a literatura brasileira com o livro de Marcelo Paiva, é a música brasileira”, afirmou o cineasta, nos bastidores dos Óscares da Academia.

“Toda esta jornada foi sobre refazer a memória de uma família ao mesmo tempo que refazíamos a memória de um país durante 21 anos de ditadura militar”, considerou Salles, que dedicou a estatueta dourada a “três mulheres extraordinárias”: Eunice Paiva, a protagonista da história, e as atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.

“Ainda Estou Aqui” remete para o período da ditadura militar do Brasil (1964-1985), recuperando a história do político Rubens Paiva, que foi preso, torturado e morto, e da mulher, a ativista Eunice Paiva. Fernanda Torres contracena com o ator Selton Mello.

O presidente do Brasil também já reagiu: “Hoje é o dia de sentir ainda mais orgulho em ser brasileiro. Orgulho do nosso cinema, dos nossos artistas e, principalmente, orgulho da nossa democracia”.

“Orfeu Negro”

No entanto, ao contrário do que tem sido anunciado, este não é o primeiro filme falado em português a vencer o Óscar de melhor filme estrangeiro.

Em 1960 esse prémio foi entregue a Orfeu Negro, um filme totalmente em português do Brasil, que foi filmado no Rio de Janeiro.

Com banda sonora original criada por Tom Jobim, Luiz Bonfá, Vinicius de Moraes e Antônio Maria.

A produção desse filme também era brasileira mas tinha outros países envolvidos: Itália e França.

Sobretudo a França, lembra a BBC: a principal produtora foi a francesa Dispat Films. A participação dos franceses foi maior do que a italiana Gemma Cinematografica e do que a brasileira Tupan Filmes. O produtor responsável foi o francês Sacha Gordine.

Por isso, oficialmente, o Óscar seguiu para França.

Na noite de entrega dos prémios, naquela noite de 4 de Abril de 1960, foi exatamente o francês Sacha Gordine a receber o Óscar no palco. Como falou em francês, o apresentador Bob Hope traduziu depois, à sua maneira, o que Sacha tinha dito: “Fui eu que fiz o filme todo, sozinho”.

// Lusa

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.