Cientistas contabilizaram 240 mil microplásticos e nanoplásticos por litro de água. Nylon é o mais encontrado. “É racional considerar alternativas, como a água da torneira”.
A água das garrafas de plástico contem até cem vezes mais partículas minúsculas de plástico do que estimado até agora, segundo um estudo divulgado na segunda-feira.
Ao utilizarem uma tecnologia inovadora, os cientistas contabilizaram em média 240 mil fragmentos de plástico detetáveis por litro de água, depois de terem testado o produto de várias marcas populares.
Este estudo, publicado na revista PNAS, levanta questões sobre as consequências potenciais para a saúde.
“Se as pessoas estão inquietas a propósito dos nanoplásticos na água engarrafada, é racional considerar alternativas, como a água da torneira”, disse um co-autor do estudo, Beizhan Yan, à AFP.
Mas acrescentou: “Não recomendamos não beber água engarrafada quando for preciso, porque o risco de desidratação pode ser maior do que o da exposição aos nanoplásticos”.
Os nanoplásticos têm atraído cada vez mais as atenções nos últimos anos e estão presentes em todo o planeta.
Os microplásticos têm menos de cinco mil micrómetros, o que representa cinco milímetros, ao passo que os nanoplásticos têm menos de um micrómetro [a milésima parte de um milímetro].
São tão pequenos que podem entrar no sistema sanguíneo e, portanto, em órgãos, como o cérebro ou o coração.
A sua formação ocorre quando plásticos maiores se degradam devido a fatores ambientais, como a luz UV ou enzimas naturais.
Um estudo recente, publicado o mês passado na Nature, descobriu que também certos organismos marinhos, como o plankton e o krill, degradam os plásticos em nanoplásticos.
Para termos uma noção da diferença de tamanho entre microplásticos e nanoplásticos, se um microplástico tivesse o tamanho de uma bola de futebol, um nanoplástico teria o tamanho de um grão de arroz.
As investigações sobre as suas consequências nos ecossistemas e na saúde humana ainda são limitadas, mas alguns estudos já evidenciaram os seus efeitos nefastos, por exemplo no sistema reprodutivo.
Os nanoplásticos têm também maior capacidade de atrair e transportar químicos nocivos, representando riscos ambientais.
Para o estudo, os investidores recorreram a uma técnica nova que recorre a lasers.
Testaram três marcas de água, sem revelar o nome: “Pensamos que todas as águas engarrafadas em plástico contêm nanoplásticos, portanto seria injusto destacar algumas”, disse Beizhan Yan.
Os resultados mostraram que cada litro continha entre 110 mil e 370 mil partículas, dos quais 90% eram nanoplásticos, com o resto referente a microplásticos.
O tipo mais encontrado é o nylon — proveniente provavelmente de filtros de plásticos utilizados para purificar a água —, seguido do politereftalato de etileno (PET), de que as garrafas são feitas.
De seguida, os investigadores tencionam testar a água da torneira, que também contém microplásticos, mas à partida em menor quantidade.
ZAP // Lusa