Quantidade de água poderia cobrir todo o planeta e será suficiente para encher os oceanos da superfície marciana. Mas será que o nosso ‘braço’ é suficientemente longo para chegar a estes reservatórios?
Marte tem rochas profundas e porosas cheias de água líquida, indicam dados sísmicos recolhidos pelo robô espacial norte-americano InSight, apenas dias depois de a NASA admitir ter encontrado sinais de vida no Planeta Vermelho, após a descoberta de uma “intrigante” rocha na sua superfície.
Os dados recolhidos permitiram aos cientistas estimarem que a quantidade de água subterrânea poderia cobrir todo o planeta a uma profundidade entre um e dois quilómetros, de acordo com o comunicado da Universidade da Califórnia, que participou na análise dos dados.
A quantidade de água líquida existente no interior seria suficiente para encher os oceanos da superfície marciana, que desapareceram há mais de três mil milhões de anos. Ao que tudo indica agora, parte dessa água não escapou para o Espaço, mas foi sim filtrada para a costa de Marte, explicam os investigadores, no estudo publicado a 9 de agosto na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Atualmente, a temperatura do Planeta Vermelho é muito inferior ao ponto de congelação da água, ou seja, qualquer água à superfície (ou perto dela) está, quase de certeza, congelada.
“A estas profundidades, a água seria líquida, não gelo”, explica um dos coautores do estudo, Michael Manga: “tendo em conta o que esperamos do fluxo de calor que sai de Marte, a água não estaria demasiado quente, mas a pressão manteria a água em estado líquido”.
“Estabelecer que existe um grande reservatório de água líquida dá-nos uma janela para o que foi ou poderia ser o clima”, explica o professor de ciências da terra e planetárias da Universidade de Berkeley.
“Não vejo porque é que este reservatório não é um ambiente habitável. Acontece na Terra: as minas profundas e o fundo do oceano albergam vida. Não encontrámos qualquer prova de vida em Marte, mas pelo menos identificámos um local que, em princípio, deveria ser capaz de sustentar vida”, avança o geofísico.
Não chegamos lá?
Elemento essencial para a vida tal como a conhecemos, a água está localizada num reservatório em pequenas fissuras e poros nas rochas no meio da crosta — a camada mais externa do interior marciano —, entre 11,5 e 20 quilómetros abaixo da superfície, pelo que será pouco útil para uma colónia humana que se queira fixar em Marte.
Fazer uma perfuração com um quilómetro de profundidade é um desafio até na Terra, recordam os cientistas.
“A baixa gravidade de Marte pode ajudar um pouco, mas é preciso muita massa e energia para perfurar. Na Terra, normalmente também fazemos circular muitos fluidos para ajudar na perfuração. Estes teriam, à partida, de ser transportados para Marte”, explica Manga.
É como um ciclo vicioso, uma vez que é esta inacessibilidade que permite que esta água exista em forma líquida.
Não obstante, os autores da investigação relevam que foi identificado pelo menos um local em Marte que, em teoria, será capaz de sustentar vida (microbiana).
InSight, o protagonista
O robô InSight, cuja missão em Marte terminou em 2022, foi enviado pela agência espacial norte-americana NASA quatro anos antes para estudar o interior do planeta e a sua atmosfera. Foi, também, o protagonista desta descoberta.
“Os dados do InSight foram essenciais”, confessa Manga: “para além do nosso estudo, revelaram que Marte é tectonicamente ativo, juntamente com a espessura da crosta e o tamanho do núcleo.”
Durante a missão, o aparelho detetou sismos em Marte de magnitude 5, impactos de meteoros e estampidos de áreas vulcânicas, que produziram ondas sísmicas que permitiram aos geofísicos estudarem o interior do planeta.
Apesar de a NASA e empresas privadas norte-americanas pretenderem enviar a médio-longo prazo missões tripuladas para Marte, o planeta é inóspito.
No entanto, a notícia está a entusiasmar a comunidade científica: levantou-se assim, pelo menos, a hipótese de que alguns vestígios de eventual vida em Marte podem ainda estar nestes aquíferos à nossa espera.
“Compreender o ciclo da água em Marte é fundamental para compreender a evolução do clima, da superfície e do interior”, diz Vashan Wright, da Universidade da Califórnia em Berkeley: “um ponto de partida útil é identificar onde está a água e qual a sua quantidade”.
Há com cada invenção………..