“O [humano] Moderno e o Arcaico devem ser considerados populações de uma espécie humana comum, que acumulou independentemente mutações e inovações culturais”, explicam os investigadores.
Os humanos modernos e os seus parentes arcaicos, como os Neandertais e os Denisovanos, podem na verdade ser a mesma espécie, de acordo com um estudo publicado em dezembro no bioRxiv e a aguardar revisão por pares.
Os investigadores defendem que estes grupos devem ser considerados populações de uma única espécie humana comum que evoluiu de forma independente, acumulando mutações e traços culturais únicos ao longo do tempo.
A investigação, liderada pelo biólogo Luca Pagani, da Universidade de Pádua, centrou-se nas alterações genéticas que definem a humanidade, nomeadamente as alterações nos cromossomas.
Analisando dados de fósseis de Neandertal e Denisovano, juntamente com amostras de humanos modernos, a equipa explorou dois eventos genéticos fundamentais: a fusão do cromossoma 2 e uma translocação na região PAR2 dos cromossomas X e Y.
Estas alterações, cruciais para o sucesso reprodutivo e a estabilidade genética, estão entre as caraterísticas que distinguem os humanos dos outros primatas.
Aparentemente, a translocação PAR2 ocorreu mais cedo do que se pensava anteriormente — antes da divisão evolutiva entre Neandertais, Denisovanos e humanos modernos, há aproximadamente 650.000 anos — o que sugere que a base genética da humanidade moderna remonta mais perto de um estrangulamento populacional, há cerca de 900.000 anos, do que durante marcos evolutivos posteriores.
O estudo também destacou 56 variações genéticas que distinguem os humanos modernos dos seus parentes arcaicos, muitas delas ligadas ao desenvolvimento do cérebro e do crânio. No entanto, a maioria destas caraterísticas não foi reintroduzida nos Neandertais durante os períodos de cruzamento, há cerca de 350.000 anos, possivelmente devido a pressões sociais ou populacionais.
Estas descobertas implicam que as caraterísticas que definem os humanos modernos — tanto genéticas como culturais — surgiram muito antes do que se reconhecia anteriormente.
“Os nossos resultados apontam para um cenário em que o [humano] Moderno e o Arcaico devem ser considerados populações de uma espécie humana comum, que acumulou independentemente mutações e inovações culturais”, escrevem os investigadores.
“Se estivermos à procura de um momento que defina a linhagem humana, podemos afirmar que os eventos que nos tornaram a todos humanos são representados pela fusão do cromossoma 2 e pela translocação PAR2”, reforça a equipa, citada pelo Science Alert.
Os investigadores sugerem que as distinções entre humanos modernos e arcaicos podem ser menos significativas do que se pensava, levantando questões sobre a forma como classificamos as diferentes populações humanas.
A confirmar-se, a investigação poderá reformular a nossa compreensão da evolução humana e desafiar a noção de longa data de espécies separadas dentro do género Homo.