Afinal os casais não ficam mais parecidos ao longo do tempo, diz estudo

US Embassy London / Flickr

Sophie Hunter e Benedict Cumberbacht

Um novo estudo sugere que os casais não ficam fisicamente mais parecidos ao longo do tempo. O que acontece é que nos sentimos atraídos por pessoas que tenham características físicas semelhantes às nossas.

Durante anos – e segundo um estudo publicado em 1987 – pensou-se que os rostos de pessoas que estavam num relacionamento amoroso de longo prazo começavam a ficar parecidas com o seu parceiro.

Nessa pesquisa, foi pedido a vários voluntários que classificassem as fotos de uma dúzia de casais, tendo em conta as suas semelhanças. Robert Zajonc, autor do artigo, concluiu na altura que os rostos dos casais se tornavam mais parecidos à medida que os seus casamentos avançavam, sendo o efeito tanto maior quanto mais felizes eles fossem.

Agora, investigadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, analisaram milhares de fotografias públicas de casais com a ajuda de tecnologia moderna e acreditam ter descoberto a verdadeira razão para as pessoas que estão num relacionamento serem fisicamente parecidas uma com a outra.

“É uma coisa em que as pessoas acreditam e sobre a qual nós tínhamos curiosidade”, disse Pin Pin Tea-makorn, estudante de doutoramento em Stanford. “O nosso pensamento inicial era que se os rostos das pessoas convergissem ao longo do tempo, então poderíamos ver quais eram as características que se alteravam”, explicou.

De acordo com o The Guardian, os psicólogos argumentam que compartilhar a vida com alguém molda o rosto das pessoas, na medida em que têm a mesma dieta, estilo de vida e passam relativamente o mesmo tempo ao ar livre.

Juntamente com Michal Kosinski, Tea-makorn usou o Google, notificações de aniversários nos jornais e sites de genealogia para encontrar fotografias de casais tiradas no início do casamento e muitos anos depois. A partir daí, os investigadores criaram um banco de imagens com fotos de 517 casais, tiradas dois anos após o casamento e entre 20 a 69 anos mais tarde.

Para testar se os rostos se tornavam mais parecidos ao longo do tempo, os investigadores mostraram uma foto de uma pessoa “alvo” acompanhada de seis outras caras – uma do seu cônjuge e as outras cinco selecionadas aleatoriamente – a um grupo de voluntários. De seguida, estes classificaram as parecenças com cada um dos rostos e o mesmo foi feito por um software de reconhecimento facial de última geração.

No entanto, no artigo publicado na Scientific Reports, Tea-makorn e Kosinski revelaram não ter encontrado qualquer evidência de que os casais fiquem mais parecidos com o passar do tempo.

As descobertas sugerem que casais de pessoas famosas, como é o caso de Benedict Cumberbatch e Sophie Hunter, não ficarão mais parecidos ao longo do tempo, mas que terão escolhido, logo à partida, parceiros com características semelhantes às suas.

Tea-makorn disse que as pessoas procuram parceiros semelhantes, tal como valores e personalidades correspondentes aos seus.

Michael Roy, psicólogo da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, liderou em 2015 um estudo para encontrar uma explicação para o facto de os cães serem (fisicamente) parecidos com os donos – e associou esse fenómeno exatamente à forma como escolhemos alguém para ter um relacionamento amoroso.

O artigo de Tea-makorn destacou ainda a importância de voltar a verificar a validade de estudos anteriores. “Um dos maiores problemas das ciências sociais é a pressão para apresentar teorias novas, surpreendentes e interessantes. Como resultado, a área está repleta de conceitos e teorias que são reivindicados, super-estimados ou que não são validados adequadamente”, disse Kosinski.

Kosinski elogiou Tea-makorn por assumir o projeto, visto que muitos cientistas evitam “balançar o barco” e revelar possíveis falhas no trabalho de outros investigadores. “Limpar esta área de estudos pode ser o desafio mais importante que os cientistas sociais enfrentam hoje em dia, mas Tea-makorn não irá, certamente, receber tanto reconhecimento pelo seu trabalho quanto receberia se apresentasse algo completamente novo e chamativo”, rematou.

ZAP //

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