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O alfabeto da vida duplicou. Cientistas criaram ADN sintético com oito letras

Millie Georgiadis / Universidade de Indiana

Estrutura da dupla hélice construída com quatro bases naturais G (verde), A (vermelho), C (azul), T (amarelo), e quatro bases sintéticas, B (ciano), S (cor-de rosa), P (roxo), e Z (laranja)

O ADN Hachimoji é a nova forma de ADN sintético, feito em laboratório, com o dobro dos blocos que existem no ADN natural e pode ter várias aplicações.

Cientistas criaram em laboratório o ADN HachimojiHachi significa “oito” e moji quer dizer “letra” em japonês. Trata-se de uma nova forma de ADN sintético, que contém o dobro dos blocos que existem no ADN natural. Não, não se trata de vida alienígena: este “produto” não sobrevive fora de um ambiente controlado.

“O ADN Hachimoji não consegue ir a lado nenhum sem escapar do laboratório”, garantem os investigadores. Aliás, não configura sequer uma ameaça. Pelo contrário, este novo sistema genético pode vir a ser muito útil em aplicações biológicas sintéticas, como o diagnóstico de doenças, monitorização de vírus, armazenamento de informação e terapias inovadoras.

A Biologia diz-nos desde sempre que o nosso ADN é feito com quatro letras – A, T, G e C, as iniciais das bases químicas adenina, timina, guanina e citosina. Além de codificar as informações necessárias para criar vida, o ADN tem a capacidade de armazenar, copiar e expandir a informação genética.

As combinações destas quatro letras, que escrevem o nosso código genético, não acontecem por acaso. Desta forma, e porque não se devem cometer erros de ortografia, há duas combinações possíveis: o par de bases A-T e o par de bases C-G.

Mas se com quatro letras já se faz tanto, o que seria capaz de se fazer com o dobro? Os cientistas, ambiciosos, quiseram responder a esta questão.

Assim, em 2012, um grupo de cientistas norte-americanos publicou um artigo científico no qual mostra que o ADN sintético de seis letras que havia sido criado podia ser copiado e transcrito com sucesso em ARN, uma molécula com várias funções biológicas importantes como a codificação genética, explica o Público.

Dois anos depois, uma equipa de investigadores do Instituto Scripps, nos Estados Unidos, anunciou que tinha criado células com seis letras, adiantando que o aperfeiçoamento desta técnica poderia abrir a porta a um novo mundo de novidades, como a criação de células sintéticas usadas para produzir proteínas.

Agora, foi dado mais um passo neste sentido: mas em vez de seis, oito. Num laboratório, também norte-americano, os cientistas conseguiram criar um novo ADN sintético com o dobro das letras do ADN natural – o ADN Hachimoji.

O ADN hachimoji pode fazer tudo que o ADN natural faz para sustentar a vida. Faz pares de maneira previsível e há regras que tornam possível prever a sua estabilidade. O ADN de Hachimoji pode ser copiado para produzir ARN Hachimoji, é capaz de orientar a síntese de proteínas”, adianta o comunicado de imprensa sobre o estudo.

Por esse motivo, e apesar de se tratar de um ADN sintético, os cientistas recusam o rótulo de “vida alienígena”, uma vez que para merecer essa designação precisaria de ser auto-sustentável. O ADN Hachimoji precisa de um fornecimento estável de “matéria-prima” criada em laboratório e que não existe fora desse ambiente.

Quanto a aplicações práticas, o estudo, publicado recentemente na Science, esclarece que pode ser útil no campo da biologia sintética aplicada: diagnósticos melhorados, alternativas ao silício para armazenamento de informações, proteínas com aminoácidos extras e novos tipos de fármacos, por exemplo.

LM, ZAP // Live Science

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