Adeus, ímanes do Pablo Escobar

ZAP

Pintura de Pablo Escobar nas ruas de Marraquexe, Marrocos

Fascínio pelo icónico barão da droga e o poder que emanava voam das prateleiras. Novo projeto de lei quer impedir “revitimização” das suas vítimas ao proibir o comércio de produtos com a sua cara. Nem os turistas se safam.

Estão em todo o lado — e não só na Colômbia.

Apesar de ter sido, além de barão da droga, responsável por atos bombistas, assassinatos, Pablo Escobar ainda é visto e celebrado em todo o mundo, mais de 30 anos depois da sua morte.

O icónico líder do cartel de Medellín continua entre nós sob a forma de ‘souvenirs’ (o lembranças, em português) e é uma grande fonte de rendimento para muitos colombianos.

T-shirts, chapéus, quadros, copos de shots ou até os tradicionais ímanes de recordação vendidos na Colômbia surgem com a cara d’El Patrón. Agora, há quem diga que tudo não passa de uma “romantização” de um dos períodos mais negros da história do país.

Serão cerca de 150 euros de multa para quem continuar a vender produtos relacionados com narcotráfico, caso os legisladores aprovem um projeto de lei apresentado esta semana no Congresso, que vai ser discutido algures nos próximos dias e em que se pede ao governo que investigue quantas pessoas vivem da venda de mercadorias relacionadas com Escobar e o valor desse mercado.

Os turistas não se livram: os que forem vistos a usar algum destes produtos poderão ser abordado pelas autoridades, mas ainda não se sabem mais contornos sobre a atuação da polícia sobre os viajantes infratores.

“Esses itens estão a revitimizar pessoas que foram vítimas de assassinos”, argumentou Cristian Avendaño, representante do Partido Verde colombiano que elaborou o projeto de lei. “Devemos proteger o direito de recuperação das vítimas e encontrar outros símbolos para o nosso país”, sublinhou.

Caso haja luz verde no Congresso, prevê-se um período de transição com vista o fim gradual da venda de todos os produtos relacionados com Escobar e narcotráfico.

Não podemos continuar a elogiar estas pessoas e agir como se seus crimes fossem aceitáveis“, disse Avendaño: “Há outras maneiras de as empresas crescerem e outras maneiras de vender a Colômbia ao mundo.”

Quanto às diversas agências que levam os turistas em passeios históricos que passam pelos locais ligados à vida do narcotraficante, ainda não se sabe o seu destino caso a lei siga em frente.

Lei “idiota”?

Embora seja uma figura incontornavelmente criminosa — que, entre muitos outros crimes, ordenou o assassinato de 4000 pessoas no espaço de menos de 20 anos —, Escobar é uma cara muito valiosa para os locais.

Desde a sua morte, a tiro, num telhado em Medellín às mãos de um dos 300 agentes da Agência Nacional de Investigações (DEA) que se dedicavam exclusivamente à sua captura, ‘Don Pablo’ tem sido retratado como um mafioso implacável e sem medo dos “todos-poderosos” Estados Unidos em documentários e até na série da Netflix, ‘Narcos’, que conta a sua história.

Na Colômbia, os seus esforços filantrópicos durante a sua tentativa política (construiu hospitais, estádios, casas e dava dinheiro vivo aos mais pobres em frente às televisões) chegaram a valer-lhe a alcunha de Robin dos Bosques e a simpatia de muitos colombianos.

Atualmente, o fascínio pelo barão e o poder que emanava voam das prateleiras — e talvez por isso a família do famoso traficante sul-americano tem insistido na aquisição de uma marca registada do seu nome.

No ano passado, o governo rejeitou o pedido de marca registada do nome de Pablo Escobar por parte da sua viúva e filhos. Queriam vender “produtos educacionais e de lazer”, mas a Superintendência do Comércio disse que tal “ameaçaria a ordem pública”. Este ano, a União Europeia rejeitou um pedido semelhante da família.

O setor do comércio colombiano defende que o novo projeto de lei é “idiota”: ‘se há procura, por que é que haveria de deixar de haver oferta?’, questionam.

“Acho que é uma lei idiota”, diz ao The Guardian um vendedor ambulante que negoceia ímanes e t-shirts com o rosto de Escobar. “Muitas pessoas vivem disto, não é uma tendência que eu inventei”, sublinha.

Quando se trabalha como vendedor, tenta-se vender o que é mais popular“, disse ao jornal outra comerciante de rua estabelecida em Bogotá. “Toda a gente tem a sua própria personalidade… se há pessoas que gostam de um assassino ou de um traficante de droga, a escolha é sua.”

Tomás Guimarães, ZAP //

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