Mais três mulheres acusaram Boaventura de Sousa Santos, diretor do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, agora suspenso, de assédio sexual.
Após a denúncia de assédio sexual feita pela deputada brasileira Bella Gonçalves, um grupo de mulheres formado por investigadoras que trabalharam com Boaventura de Sousa Santos entregou uma carta à Universidade de Coimbra acusando-o de assédio sexual, assédio moral e extrativismo intelectual, relatou a Pública.
Os relatos são de duas brasileiras e uma portuguesa, que estiveram em equipas chefiadas por Boaventura de Sousa Santos entre 2000 e 2019 – duas mantêm o vínculo com o CES.
À Pública, relataram duas situações de assédio sexual. Numa conversa privada, o professor terá dito a uma investigadora que ambos poderiam “ter uma relação especial” e que, “quando olha para as pernas dela, tem desejo”.
Noutro caso, o diretor do CES terá feito comentários sobre o corpo e as pernas da investigadora, numa comunicação por e-mail. “A pesquisadora assediada por e-mail recebeu um “forte assédio moral tendo o seu trabalho desqualificado” por não ceder às investidas, informou o grupo.
À Pública, a advogada Daniela Félix, representante legal do grupo, disse que “um dossier com provas será apresentado à Universidade de Coimbra, tão logo se estabeleça uma comissão independente de investigação”.
“Temos cinco testemunhas dispostas a prestar depoimento, além das vítimas. Também temos mensagens, e-mails e documentos”, adiantou. “A ideia é oferecer auxílio e acolhimento para essas pessoas”, disse a advogada.
Os últimos relatos ampliam a sequência de acusações de assédio sexual contra Boaventura de Sousa Santos, que despontaram a partir de uma publicação sobre má conduta sexual no meio académico, em março.
Essas primeiras acusações foram feitas por Lieselotte Viaene, Catarina Laranjeiro e Miye Nadya, três investigadoras que passaram pelo centro, num capítulo de um livro publicado por uma editora britânica.
Agora, as integrantes do grupo afirmam que as práticas abusivas do professor “eram de amplo conhecimento” da Universidade de Coimbra.
“O abuso não é sempre fácil de identificar. Nos momentos em que partilhamos com outras pessoas as violências vividas, encontramos uma reiterada normalização das más práticas ou a ideia da sua inevitabilidade em relações de hierarquia entre homens e mulheres. No caso em questão, entre um homem no mais alto patamar da carreira académica e mulheres em diferentes níveis de precariedade e vulnerabilidade”, refere a carta entregue pelo grupo à Universidade de Coimbra, na segunda-feira.
As investigadoras relataram que as práticas atingiam homens e mulheres. “Mas as mulheres eram desproporcionalmente impactadas com a sobrecarga de trabalho, excesso de demandas, e com a frequência com que o seu trabalho era depreciado. Pedidos domésticos eram dirigidos às pesquisadoras, como pedir que lhe seja servido um café ou que assegurem que ele tem bananas e água enquanto estava hospedado em viagens para alguma atividade”, indicaram na carta.
Além do trauma, os assédios e abusos tiveram impactos nas suas carreiras. “Estamos, há anos, gerindo por conta própria os danos emocionais e materiais dessa relação laboral”, escreveram igualmente.
O grupo pediu à Universidade de Coimbra a criação de “mecanismos de recebimento de outras denúncias e materiais probatórios” contra Boaventura de Sousa Santos e “que seja dada garantia absoluta de sigilo às mulheres que queiram denunciar ou juntar provas a esse processo”.
Na sexta-feira, a direção do CES anunciou que Boaventura de Sousa Santos e o investigador Bruno Sena Martins ficariam suspensos “de todos os cargos que ocupavam” enquanto durar a investigação de uma comissão independente, cuja constituição foi anunciada na terça-feira.
Caso Boaventura de Sousa Santos
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