O acordo secreto que podia ter terminado com a guerra na Ucrânia em 2022

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Negociadores ucranianos e russos quase finalizaram um acordo de paz que podia ter terminado com a guerra na Ucrânia poucos meses depois de ter começado. O “documento secreto” é agora revelado.

A guerra na Ucrânia começou a 24 de Fevereiro de 2022, com a invasão da Rússia. Logo na altura, iniciou-se um processo de negociações entre representantes da Rússia e da Ucrânia com vista a um acordo de paz.

As linhas desse possível acordo constam de um “documento secreto” de 17 páginas, alegadamente elaborado por negociadores ucranianos e russos entre Fevereiro e Abril de 2022, e que é agora revelado pelo jornal alemão Die Welt e citado pelo francês Le Figaro.

O Die Welt consultou o documento original e aponta que só faltava limar algumas arestas que deviam ser “negociadas por Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky” num encontro entre ambos que nunca aconteceu.

As condições da Rússia

Na verdade, as condições impostas pela Rússia para retirar as suas tropas da Ucrânia parecem bastante desfavoráveis ao país invadido. Mas a Ucrânia estaria disposta a aceitar algumas delas.

O Die Welt cita que os russos exigiam que a Ucrânia adoptasse uma “neutralidade permanente” e que renunciasse a qualquer “aliança militar”, o que implicava não aderir à NATO.

Além disso, Moscovo pretendia a desmilitarização parcial da Ucrânia, com a redução do contingente militar de Kiev para 85.000 soldados em vez de um milhão.

E a Ucrânia não podia “receber, produzir ou adquirir” armas nucleares, nem permitir a presença de armas e tropas estrangeiras no seu país.

Mas a Rússia não se opunha à adesão da Ucrânia à União Europeia e comprometia-se a não voltar a atacar o país vizinho.

A Ucrânia obtinha ainda “o direito à legítima defesa” – como se não fosse algo já garantido pelo direito internacional.

E “no caso de um ataque armado contra a Ucrânia”, a Rússia comprometia-se a “ajudar Kiev a exercer o seu direito à auto-defesa, garantido pela Carta das Nações Unidas, num prazo máximo de três dias”, salienta o acordo citado pelo Le Figaro.

Moscovo também exigia que o russo “se tornasse a segunda língua oficial na Ucrânia”.

Divergências sobre a Crimeia

No documento, ficaram evidentes as divergências quanto ao estatuto da Crimeia, território ucraniano que a Rússia anexou em 2014. Esse seria um dos pontos que Putin e Zelensky teriam para limar.

A Rússia estaria disposta a retirar as tropas da Ucrânia, exceptuando da Crimeia e da região do Donbass.

“Foi o melhor acordo que poderíamos ter tido” na altura, terá confessado um membro da delegação negociadora ucraniana ao Die Welt.

Estes dados surgem num momento em que decorre uma nova ofensiva russa em Kharkiv, com Zelensky a insistir que precisa das armas prometidas pelo Ocidente.

Entretanto, Vladimir Putin nomeou o economista Andrei Belousov para o Ministério da Defesa. A decisão é encarada na Ucrânia como um sinal de que Putin está “a planear uma guerra para um longo período”.

A paz negociada em 2022, está cada vez mais distante.

Susana Valente, ZAP //

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8 Comments

  1. As condições russas fazem lembrar as condições que os vencedores da 1ª Guerra Mundial impuseram à Alemanha em 1919. Passados pouco mais de 10 anos, os nazis tomavam o poder em Berlim muito por causa disso.

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  2. Este acordo era como se costuma dizer: dou-te uma salsicha e tu dás-me um porco. Isto era mesmo para não ser aceite e os Russos terem um pretexto para invadir a Ucrânia.

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  3. Após o permanente desrespeito dos Acordos de Minsk pela Europa e US, o acordo que os belicistas ocidentais não quiseram e mandaram o Boris Johnson a correr, destrui-lo. Tirando a situação da Crimeia, é o texto dos Acordos dese salvo milhoes de pessoas na Ucrania e Russia. Mas isso não venderia armas, muitas, nem colocaria as visceras e a almas dos nossos filhos na guerra, como eles vêm querendo.

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  4. Penso que isso é mais especulação. A Rússia tem mais ambição. Já se sabe há muito que os desejos do Putine é voltar a dominar os países que compunham a URSS. Não começava um guerra para depois ao fim de pouco tempo andar a fazer acordos de paz. Também penso que a guerra está para lavar e durar. Quem não se lembra da guerra Irão – Iraque? Durou 8 anos!

  5. Enquanto a China mantiver o atual discurso de apoio velado à Rússia, a “operação militar especial” não acaba.
    A China tem todo o interesse na continuação da guerra, com enfraquecimento dos EUA e Europa.

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  6. Acho piada é que se continue com a falácia de a Crimeia ser território da Ucrania. A Crimeia é e sempre foi Russa. Durante a União Soviética ela foi colocada sobre gestão do Oblast da Ucrania. Quando a Ucrania se tornou independente deveria ter devolvido a administração do território à Russia e em vez de o fazer anexou o território. Quando a Russia o recupera, toda a gente acha que os Russos é que foram os invasores…. Vão estudar história antes de dizerem bacoradas ok…

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  7. Tudo descontextualizado, sem memória histórica bem consolidada. Devia sim, estudar a história da Crimeia muito cuidadosamente, ao longo dos séculos. Já agora, e Olivença? É território português nunca devolvido pela Espanha. Técnicamente continua em “aberto”. Acha que nos esquecemos? Pois os “Russ” de Kiev e Crimeia foram os primeiros de todos os povos “Russ”. Nome atribuído às migrações dos povos escandinavos naquela zona geográfica. Só depois, com a expansão, surgem os “Russ” da Moscóvia. Acha que os Ucranianos se esquecem colectivamente deste facto? Era como nós nos esquecermos do Afonso Henriques…

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