Acções do Benfica com comissão milionária a Carlos Janela. Em AG muito quente, sócios gritaram, mas não puderam votar

(dr) Cátia Luís / SL Benfica

Rui Costa, Benfica

Rui Costa, presidente interino do Benfica

A Assembleia-Geral (AG) Extraordinária do Benfica de sexta-feira à noite foi muito quente, com cânticos, protestos e pedidos de demissão dos sócios. Enquanto isso há novos dados sobre o negócio de venda das acções do Benfica entre o “Rei dos Frangos” e John Textor.

Vivem-se dias conturbados no Benfica, com informações sobre a venda de acções da SAD a surgirem enquanto a contestação dos sócios à direcção de Rui Costa prossegue.

Na AG desta sexta-feira, ficou bem marcado esse desagrado, com insultos, gritos, pedidos de demissão e de votação à mistura.

Há muito que não havia uma AG tão quente para os lados da Luz e Rui Costa, o presidente do Benfica em funções, chegou a desabafar que não quer “que isto volte a acontecer”.

É que nem Rui Costa, um dos grandes jogadores da história do Benfica, foi poupado pelos sócios. O ex-futebolista discursou na AG para sublinhar que não é “príncipe herdeiro” e para assumir que está disposto a dar aos sócios o que eles querem.

Entre as exigências dos associados esteve a votação de um regulamento eleitoral e o desejo de que as próximas eleições sejam feitas por voto físico. Duas pretensões a que Rui Costa acedeu para acalmar os protestos.

Depois das eleições não quero mais contestação“, pediu ainda Rui Costa, notando o desejo de “que haja estabilidade no clube”.

Quanto às críticas que lhe são apontadas, depois de ter assumido a presidência interina após a saída de Luís Filipe Vieira devido às suspeitas de ter lesado o clube, Rui Costa defendeu-se com o seu benfiquismo.

“Estou aqui pelo Sport Lisboa e Benfica. Podem colocar em causa muita coisa sobre mim, se tenho capacidade, se não tenho capacidade, têm toda a legitimidade para isso, mas não podem pôr em causa o meu benfiquismo e o que sou para este clube“, salientou.

Presidente da Mesa da AG nega votação

A votação tão desejada pelos sócios acabou por não acontecer, com o presidente de mesa da AG do Benfica, António Pires de Andrade, a negar a possibilidade de votar as propostas de Regulamento Eleitoral para as próximas eleições, agendadas para 9 de Outubro.

Esta decisão de Pires de Andrade surgiu pouco depois da intervenção de João Noronha Lopes, candidato derrotado no último acto eleitoral.

Durante a sua intervenção, Noronha Lopes criticou os moldes das próximas eleições, considerando que o processo “foi feito à pressa e sem regras definidas”.

“Neste momento, a transparência perde por 2-0. Nada une mais os benfiquistas do que uma direção que seja clara e transparente. Queremos voltar ao tempo de benfiquistas contra benfiquistas? Quem é que beneficia com isto? O Benfica? Quem beneficia são os nossos adversários que se riem na nossa cara”, afirmou Noronha Lopes.

Aprovada auditoria às eleições que reconduziram Vieira

O ponto alto da AG foi a aprovação de uma auditoria às eleições de 2020 que reconduziram Luís Filipe Vieira à presidência do clube.

Em causa está o sistema de votação electrónica que foi então utilizado, com os sócios a lançarem dúvidas quanto ao modo como se processou a recolha das urnas que continham os talões de voto emitidos, nomeadamente relações com empresas envolvidas no processo, termos da sua contratação, local de destino e/ou depósito das urnas, a integridade das mesmas e a intangibilidade dos talões.

Nesta reunião, foi também discutido o processo de contagem dos votos.

Até ao momento, as eleições para os órgãos sociais do Benfica só têm um candidato, que é Francisco Benítez. Noronha Lopes afastou-se de uma eventual candidatura e Rui Costa ainda não tomou qualquer posição oficial.

A 24 de Setembro próximo, haverá nova AG do Benfica para apreciar e votar o relatório de gestão do exercício 2020/2021, bem como o relatório do Conselho Fiscal.

“Autor da cartilha” do Benfica no negócio das acções

No meio deste turbilhão interno em que vive o Benfica, surgem novos dados sobre o negócio da venda de acções da Benfica SAD entre o empresário José António dos Santos, o “Rei dos Frangos”, e o milionário John Textor.

O Correio da Manhã (CM) avança que a conclusão do negócio dará uma “comissão de 10% sobre o contrato de 50 milhões de euros” a dois alegados intermediários que serão “dois cidadãos portugueses”. “Um deles será Carlos Janela, ex-dirigente desportivo“, segundo o mesmo jornal.

Estes intermediários “terão participado na aproximação entre Santos e Textor” e terão “contribuído para o acordo final celebrado entre as partes em Junho último”, segundo o CM.

Num artigo de 2017, publicado no Tribuna Expresso, Carlos Janela é descrito como “uma velha raposa do futebol português” e como o “autor da cartilha” do Benfica, pois seria responsável por enviar aos vários comentadores de televisão afectos ao clube, incluindo André Ventura, Pedro Guerra, João Gobern e José Calado, informações sobre o que deveriam falar nas suas intervenções.

Carlos Janela passou por clubes como Famalicão, Sporting e Belenenses, onde foi director desportivo.

Foi contratado pelo Benfica em 2009, pela mão de Jorge Jesus, e “conquistou espaço de influência junto de Luís Filipe Vieira” em 2010, segundo o artigo do Tribuna Expresso.

Mas, em Janeiro de 2018, o CM já anunciava que a Polícia Judiciária suspeitava que Carlos Janela teria enviado um email a Vieira a propor a criação de um blogue com conteúdos fornecidos por uma “rede de informadores” composta por jornalistas.

ZAP // Lusa

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