Um novo estudo revelou que a falta de acesso à interrupção voluntária da gravidez está associado a um risco aumentado de suicídio.
“O stress é um fator chave para a sobrecarga da saúde mental e um grande condutor do aumento do risco de suicídio”, disse o psiquiatra e neurocientista Ran Barzilay, da Universidade da Pensilvânia e do Hospital Infantil de Filadélfia, um dos responsáveis pelo estudo, publicado recentemente na JAMA Psychiatry.
“Descobrimos que este a restrição ao aborto afeta mulheres de uma idade específica numa causa específica de morte, que é o suicídio”, acrescentou, citado pelo Futurity.
Num trabalho anterior, o investigador Jonathan Zandberg, da Wharton School, que também participa do projeto, mostrou que um acesso mais restrito aos cuidados reprodutivos cria um compromisso dispendioso para as aspirações de carreira das mulheres e para as suas escolhas de formação familiar.
Os investigadores decidiram examinar outros aspetos desta dinâmica, analisando as implicações para a saúde mental da aplicação de leis reprodutivas rigorosas e o risco de suicídio, a terceira principal causa de morte entre os 25 e os 44 anos de idade nos Estados Unidos (EUA).
A equipa realizou uma análise de diferenças, utilizando dados a nível estatal de 1974 a 2016 e abrangendo toda a população de mulheres durante esse período. “Construímos três índices que medem o acesso aos cuidados reprodutivos, analisando a aplicação da legislação a nível estadual”, explicou Zandberg.
“Sempre que um Estado aplicou uma lei relacionada com os cuidados reprodutivos, incorporámo-la no índice”. A seguir, entre as mulheres em idade reprodutiva, analisaram as taxas de suicídio antes e depois de as leis terem entrado em vigor.
“Comparativamente, as mulheres que sofreram o choque deste tipo de legislação restritiva tiveram um aumento significativo na taxa de suicídio”, indicou Zandberg.
De seguida, examinaram se a descoberta era específica às mulheres em idade reprodutiva ou se podia ser observada noutras populações. Como comparação, realizaram a mesma análise para todas as mulheres entre 1974 e 2016 com idades compreendidas entre os 45 e os 64 anos. Não encontraram qualquer efeito.
Embora os resultados não provem que a restrição do acesso ao aborto tenha provocado o aumento das taxas de suicídio, a equipa acredita que a abordagem analítica é um dos métodos mais rigorosos para permitir uma inferência causal.
“Esta associação é robusta – e não tem nada a ver com política. É tudo apoiado pelos dados”, referiu Barzilay.
Há limitações a estas conclusões, incluindo o facto de os investigadores não terem tido acesso a dados sobre as experiências ou a saúde mental das mulheres.
No entanto, mesmo com as limitações, os investigadores dizem que as descobertas têm implicações clínicas, políticas e éticas. O reconhecimento desta ligação pode mudar a forma como os médicos e outros prestadores de cuidados de saúde abordam a classificação do risco de suicídio em mulheres em idade reprodutiva.
Além disso, aponta para a necessidade de melhores políticas de prevenção do suicídio e acrescenta dados concretos ao debate ético sobre o acesso ao aborto.