A vida na Terra enfrenta uma ameaça existencial, alertam cientistas

20 de 35 sinais vitais planetários, entre os quais a emissão de CO2 e o consumo de energia e carne por habitante atingiram níveis recorde este ano. Três mil milhões a seis mil milhões de pessoas podem encontrar-se “fora da zona habitável” do globo até ao final do século.

As alterações climáticas constituem uma “ameaça existencial” para a vida na Terra, avisou esta quarta-feira um grupo de eminentes cientistas, em relatório onde analisam os eventos meteorológicos extremos em 2023 e a falta de ação política.

O estudo, publicado na revista BioScience, examinou 35 “sinais vitais” planetários como a poluição pelo dióxido de carbono (CO2), o consumo de energia e de carne por habitante, a desflorestação pelo fogo ou os dias de calor extremo. Dos 35 indicadores analisados, 20 atingiram níveis recorde em 2023, concluiu o conjunto de cientistas.

“Estamos chocados com a ferocidade dos fenómenos meteorológicos extremos em 2023. Entrámos em território desconhecido, que nos assusta”, escreveram.

Enquanto 2023 está em vias de se tornar o ano mais quente alguma vez registado, regiões inteiras sofreram vagas de calor mortíferas, tempestades, inundações, por vezes, sofrendo uma catástrofe a seguir a outra.

Quanto aos oceanos, as temperaturas “estão completamente fora dos padrões” desde há meses, sem que os cientistas consigam explicar totalmente o que se está a passar, sublinhou Johan Rockström, diretor do Instituto de Potsdam para a investigação em alterações climáticas (PIK, na sigla em Alemão).

Uma equipa internacional de investigadores revelou, em maio, que algumas das fontes de água doce mais importantes do mundo perderam água a uma taxa de cerca de 22 gigatoneladas por ano durante quase três décadas.

Segundo os cientistas, a quantidade de água armazenada globalmente em grandes lagos diminuiu principalmente devido a fatores climáticos e ao excessivo consumo humano.

Observações de imagens de satélite, além de modelos climáticos e hidrológicos ajudaram os investigadores a mostrar que mais de 50% dos grandes lagos e reservatórios naturais sofreram perdas de volume de água.

Agora, para esta equipa, a constatação não tem recurso: “A vida na Terra está sob ameaça”.

Limite de subida de temperatura pode estar a ser ultrapassado

Ora, perante esta ameaça, não só as concentrações de gases com efeito de estufa atingem máximos históricos, como os financiamentos das energias fósseis aumentaram acentuadamente.

“Temos de mudar o nosso ponto de vista sobre a emergência climática, que não é um problema ambiental, mas uma ameaça sistémica e existencial”, afirmou-se no documento, divulgado a um mês da 28.ª Conferência das Partes (COP28) da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Aliterações Climáticas, no Dubai.

O objetivo mais ambicioso do Acordo de Paris – a limitação a um máximo de 1,5 graus centígrados (ºC) da subida da temperatura média global em relação à era pré-industrial – deve ser medido em vários anos, para ser considerado atingido.

Mas este limite já pode estar a ser ultrapassado anualmente, avisou William Ripple, o coautor principal do estudo, o que abre caminho a um círculo vicioso de agravação do aquecimento, como a fusão das calotes polares, o desaparecimento das florestas, o descongelamento dos poços de carbono das terras congeladas, a extinção dos corais…

“Uma vez ultrapassados, estes pontos de viragem podem modificar o nosso clima de uma maneira difícil, quiçá impossível, de reverter”, avisou este professor na Universidade do Oregon.

“Já não vamos conseguir evitar alguns pontos de viragem. Temos de procurar diminuir o desgaste do impacto”, acrescentou Tim Lenton, da Universidade de Exeter, à AFP, lembrando a necessidade de reduzir drasticamente as emissões dos gases com efeito de estufa. Isto, porque “cada fração de grau [centígrado] conta e o jogo ainda não acabou”.

O documento avisou ainda que três mil milhões a seis mil milhões de pessoas podem encontrar-se “fora da zona habitável” do globo até ao final do século.

ZAP // Lusa

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