A sua casa é mais radioativa do que pensa

Da louça aos sapatos, quase tudo tem radiação na sua habitação (até aquilo que ingerimos).

Já é habitual, quando falamos de radiação, dizer que ela está em todo o lado, tanto nos raios cósmicos que chegam do espaço como nos minerais que podem acabar por se “colar” aos nossos sapatos.

O que talvez não saiba é que a sua casa também é radioativa — ou mais especificamente, que contém diversas fontes de radiação, provenientes de locais bastante insólitos.

Quão radioativa é uma casa, afinal de contas? Spoiler: a radiação não vem do seu micro-ondas.

Se quisermos exagerar, poderíamos dizer que todas as construções recebem radiação todos os dias, através da luz solar ou das ondas de rádio de 2,4 GHz.

Sabemos, contudo, que o que vem à mente quando se fala em “radiação” é, na verdade, a radiação ionizante, forte o suficiente para arrancar os eletrões dos nossos átomos, danificando o ADN e causando cancro, ou, em doses muito elevadas, queimaduras e envenenamento radioativos. Esta é menos comum, mas ainda presente.

A ingestão de radiação

Antigamente, as televisões de tubo, que funcionavam através de raios catódicos, eram uma fonte baixa de radiação de raios-X mas, como praticamente todos os humanos utilizam atualmente os aparelhos de ecrã plano, sem radiação, a maioria das fontes “domésticas” são objetos com pequenos vestígios de elementos radioativos — especialmente alimentos.

A banana, por exemplo, contém isótopos de potássio-40, radioativo, suficientes para trazer ao corpo humano 0,0001 millisieverts (mSv), a mesma dose de radiação que uma pessoa recebe ao viver a 80 km de uma central nuclear. Não se preocupe: é muito pouco.

Já as castanhas-do-Brasil são cerca de cinco vezes mais radioativas, uma vez que as raízes das castanheiras são tão profundas que acabam por concentrar o rádio (o elemento químico) radioativo do solo. Contando que não come mais do que duas destas castanhas por dia, estará a salvo de efeitos negativos.

Outra atividade quotidiana que já sabemos ser nociva é o tabagismo. Para além dos motivos óbvios pelos quais o cigarro faz mal à saúde, os fertilizantes utilizados na planta do tabaco também trazem rádio, além de chumbo e polónio, fazendo com que um único cigarro tão radioativo como sete bananas.

Detetores de fumo também contêm um pouco do isótopo de amerício-241. Este elemento químico emite radiação pela emissão alfa, que pode ser bloqueado até mesmo com uma folha de papel, evitando que saia da própria tampa do aparelho. Só seria perigoso se o ingerisse, no final das contas.

Aliás, alguns pratos e copos de cerâmica fabricados entre 1930 e 1970 eram vidrados com óxido de urânio, o que tornava o consumo de alimentos nesses recipientes um pouco radioativo — mais precisamente, o equivalente a comer uma banana por hora.

Radiação na casa

O solo de alguns locais contém, naturalmente, mais radiação do que outros, dependendo também da altitude. Caves costumam ser mais radioativas por estarem no subsolo, onde há mais minerais e elementos radioativos, mas viver em altitudes elevadas também pode expor a casa a maior radiação, dado que há menos atmosfera entre si e os raios cósmicos que bombardeiam o planeta constantemente.

Em relação ao solo, a influência de minerais está entre os principais fatores radioativos. Regiões com muito granito, por exemplo, tendem a ser bastante radioativas, já que o material contém urânio, elemento que decai e forma rádio, e, em seguida, radão, gás que vai sendo libertado lentamente para o ar, emitindo radiação alfa e aumentando as probabilidades de cancro do pulmão em concentrações elevadas.

Organizações internacionais afirmam que pessoas não expostas à radiação por ocupação (ou seja, que não trabalhem com radiologia ou em minas, por exemplo) não devem receber mais de 1 mSv por ano — alguns locais com muito granito, como a região da Cornualha, no Reino Unido, têm uma radiação de fundo de 7,8 mSv.

É possível minimizar um pouco a concentração de radão doméstico ao melhorar a ventilação, especialmente nas caves, mas é recomendável evitar viver próximo a concentrações elevadas.

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