No ano passado, a agência governamental norte-americana abandonou a ideia de uma alteração ao nome, mas uma nova investigação jornalística veio reavivar o debate.
As acusações de homofobia imputadas a James Webb, anterior chefe da NASA, estão a gerar polémica, assim como pedidos para que a agência altere o nome do telescópio espacial, uma opção que tem sido recusada. Os detalhes são revelados num novo artigo publicado pelo site Scientific American, que aprofunda a alegada postura homofóbica do cientista, mas também os esforços que foram feitos na agência no sentido de perceber se o seu nome seria mais adequado ou não — mesmo numa fase em que o telescópio já estava em órbita.
Segundo o relato, numa reunião de março, o Comité Consultivo de Astrofísica da NASA, alguns funcionários destacaram que ainda está em curso uma investigação sobre as ações de Webb, o que deixa em aberto a possibilidade de novos factos virem a ser conhecidos. Ainda durante esse encontro, o atual diretor de astrofísica, Paul Hertz, disse que a decisão tomada — e oficializada — “é dolorosa para alguns e parece errada para muitos de nós”.
A opção de mudança de nome está ainda a ser considerada, sendo que esta ganhará força se se considerar os danos reputacionais que a agência tem sofrido, sobretudo à luz do legado deixado por Webb. Renomear o telescópio seria “algo simples mas muito impactante que a NASA pode fazer, tanto para os astrónomos como para o público em geral”, sugeriu Johanna Teske, astrónoma da Carnegie Institution for Science, ao SciAm. “Porque não aproveitar a oportunidade para fazer isso e homenagear um valor fundamental?”.
Alguns e-mails divulgados no último mês também mostram que a NASA tem total conhecimento das palavras de Webb, mais do que fez acreditar quando, no ano passado, em comunicado, rejeitou qualquer alteração ao nome do telescópio. No entanto, uma investigação descobriu documentos que comprovavam reuniões de Webb com o presidente Harry Truman durante o seu tempo no Departamento de Estado para discutir uma “investigação” dos funcionários homossexuais no departamento.
No seguimentos destas, muitos empregados homossexuais foram despedidos durante o mandato da Webb no Departamento de Estado. Documentos oficiais relativos a decisões judiciais também vieram à tona durante a investigação, enaltecendo que o despedimento de empregados homossexuais na NASA durante o mandato da Webb era uma prática comum.
Segundo o site Futurism, a agência estava ciente desta investigação e, ainda assim, ter optado por eliminar a questão chocou muitos na comunidade espacial. “É quase divertido a incompetência que esta história revela“, apontou Scott Gaudi da Universidade Estatal de Ohio ao SciAm, “e como quase não pararam para pensar na importância da questão para a comunidade astronómica LGBT e como a NASA é importante para os jovens que procuram focar-se em exemplos a seguir”.
Esta perspetiva foi partilhada por muitos peritos espaciais, de acordo com o relatório da SciAm. “Perdi a fé, e penso que muita gente perdeu”, explicou Chanda Prescod-Weinstein da Universidade de New Hampshire, embora a investigadora tenha esperança de que a NASA ainda possa reconsiderar. “Como cientistas, apercebemo-nos muitas vezes de que estávamos a cometer um erro e iniciamos um novo rumo“.
A história reavivou um debate antigo: o de que Webb viveu numa época em que a homofobia imperava e que, por isso, as palavras e ações refletiam as crenças generalizadas da altura. Lucianne Walkowicz, uma astrónoma do Planetário de Adler que se demitiu do cargo de conselheira da NASA por causa desta mesma controvérsia, explicou esta linha de pensamento numa entrevista com a SciAm.
“É sedutor querer procurar monstros“, apontou Walkowicz. “Mas penso que os monstros são um mito que dizemos a nós próprios como o preconceito e a discriminação são decretados”. Estamos demasiado concentrados numa ideia caricatural do que é a discriminação em vez de como a discriminação é uma decisão política a vários níveis promulgada por muitas pessoas”.