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A “máquina” de Villas-Boas e a mobilização por Pinto da Costa. Macaco falou (e chamou Conceição)

Não viu agressões na AG, onde “só cantou Pinto da Costa, olé”. Foi tudo “uma máquina de campanha” de Villas-Boas para ganhar as eleições, diz Macaco em tribunal.

O antigo líder da claque Super Dragões, Fernando Madureira, começou a falar na manhã desta segunda-feira no arranque do julgamento da Operação Pretoriano, no Tribunal de São João Novo, no Porto, onde começou a responder por 19 crimes.

“Macaco”, um dos oito arguidos que disse querer prestar declarações, negou responsabilidade no clima criado na polémica assembleia-geral do FC Porto, onde não viu agressões nenhumas, e reafirmou, entre críticas a apoiantes de André Villas-Boas, a lealdade pelo ex-presidente dos azuis e brancos, Pinto da Costa.

A mobilização por Pinto da Costa

Fernando Madureira disse ter “mobilizado” a claque para apoiar Pinto da Costa na assembleia-geral, mas garantiu que não ordenou agressões.

“Eu mobilizei os Super Dragões e pessoas conhecidas para irem à AG [de novembro de 2023] para apoiarem Pinto da Costa. Saiu de mim”, referiu Madureira, por considerar aquela assembleia-geral “umas primárias” de aprovação ao líder.

O antigo chefe da claque disse no entanto nunca ter visto qualquer das agressões, garantiu que agiu para “apagar fogos” no evento e que não ordenou que adeptos mudassem de bancada. Sentiu-se “triste e ofendido” com ofensas a Pinto da Costa e que uma reação mais acesa, violenta, “provavelmente” nasceu disso.

“Vi só a garrafa de água a voar, isso eu vi. Uma garrafa de plástico que voou de uma bancada para a outra”. E os “fozeiros” e “betinhos da Foz” referidos nas mensagens, confirma, eram “os apoiantes de Villas-Boas”.

E sublinhou que as imagens que estão a servir de prova “não têm som”, e a sua postura corporal pode ser mal entendida: “só cantei Pinto da Costa, olé”, disse, imitando o cântico em tribunal.

Madureira disse ainda que pouco contacto teve com a esposa Sandra Madureira, outras das arguidas, durante a AG. Confrontado com uma mensagem em que se lia “não podemos permitir que enxovalhem o presidente”, que se dirigia a apoiantes de Villas-Boas, à qual respondeu “vale tudo“, Macaco sublinha que esse “vale tudo” não era “de certeza para incentivar a bater em ninguém”.

Considerando “completamente falso” que tenha insultado adeptos afetos ao então putativo candidato André Villas-Boas, Madureira negou ter estado envolvido na organização da reunião magna: ninguém de um grupo da claque, na rede social Facebook, viria a “provocar desacatos ou bater em alguém”.

Questionado sobre se “o que se passou na assembleia não teve na a ver com os Super Dragões”, foi taxativo: “completamente verdade”, atirou. Defender Pinto da Costa, reforçou, era o que o movia, sendo-lhe “indiferente” de que forma votariam os sócios na alteração estatutária proposta.

“Foi tudo uma máquina de campanha”

A dado ponto, descreve, sentiu-se “extremamente nervoso e desagradado” na AG.

“Fiquei irritado, transtornado, angustiado e triste, por ver sócios do FC Porto uns contra os outros. (…) Eu disse: ‘é esta m*** que vocês querem para presidente? Veio dar uma entrevista, foi para casa. A esta hora está com os c*** sentados no sofá e vocês aqui à porrada”, disse segundo A Bola, depois de pedir à juíza para usar palavrões.

Madureira atribuiu, de resto, os desacatos e problemas subsequentes a uma “campanha” orquestrada pelo movimento associado ao atual presidente.

Negou conhecer dois dos arguidos, estando ainda incompatibilizado com alguns dos outros à data dos factos, a começar por Vítor Catão, e qualquer associação da claque aos acontecimentos. “Foram atos isolados que nada tiveram a ver com os Super Dragões. Foi tudo criado por uma máquina de campanha [de Villas-Boas] para ganhar as eleições”.

Madureira reiterou ainda acusações e insinuações quanto a apoiantes de André Villas-Boas. Para o arguido, mantiveram-se em funções os diretores de segurança e marketing do clube, responsáveis pela organização da assembleia-geral, e a SPDE continua a fornecer serviços de segurança ao clube, “e os outros, tudo o que era Pinto da Costa”, foram demitidos.

Os próprios Super Dragões, de resto, mantiveram o protocolo existente com o clube, e, para Fernando Madureira, “aquela AG foi o rastilho para ele lançar a campanha”, reforçou, já pela tarde.

“Ameaças? É namorada do meu primo”

Já pela tarde, questionado sobre um pedido quanto a um cartão de sócio de uma mulher, presumivelmente para que essa pessoa pudesse entrar na AG por outra associada, explicou que decidiu “castigar” quem o contactou.

“Não lhe arranjei nada. Pediu-me um cartão de sócio de mulher. Disse que sim, mas na hora deixei-a ficar ‘agarrada’. Primeiro, não arranjava [de qualquer forma], e ela fazia campanha nas redes sociais para Villas-Boas. Foi uma maneira de a castigar“, declarou.

A questão de entrada no recinto e credenciação dominou grande parte das perguntas da parte da tarde, em que a procuradora confrontou Madureira com mensagens relativas a uma organização da presença massiva de apoiantes de Pinto da Costa.

Grupos de WhatsApp, um com cerca de 300 pessoas e afeto aos Super Dragões, no geral, e outro com os líderes de núcleos, foram focos de discussão, com o antigo chefe da claque a reiterar que não “manda nas pessoas” nem decide como vão votar ou comportar-se — até porque disse desconhecer os estatutos do FC Porto ou as alterações que então seriam votadas, apenas que Pinto da Costa pediu voto contra nos “pontos mais quentes”.

Negando o ‘arranjo’ concertado de cartões de sócio, foi questionado com uma mensagem de uma adepta portista, identificada como “Bárbara SD”, a quem terá ameaçado e insultado.

“Isso é no sentido figurado. É namorada do meu primo, e isto é tudo no sentido figurado. Tenho uma esposa, mãe, avós, sogras, tias, e três filhas. (…) Temos de perceber o conteúdo e o meu grau de confiança com a pessoa”, afirmou.

Pouco depois, admitiu que não conseguia tomar conhecimento de tudo o que lhe enviavam em “talvez 70 ou 80 grupos” na rede social, e serviço de mensagens, WhatsApp, anuindo a pedidos “para despachar sem ler. Até me chamavam o ‘ok, ok'”, reforçou.

Macaco chamou Conceição e Baía a depor

Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira — o único em prisão preventiva, desde janeiro de 2024 — e a esposa Sandra querem que o antigo técnico do Porto, Sérgio Conceição, preste declarações no julgamento, que continua em 24 e 25 de março, estando também agendadas sessões para abril e maio.

Vítor Baía, Adelino Caldeira e Alípio Fernandes, ex-dirigentes dos dragões, também terão sido chamados pelo casal, ainda segundo o Correio da Manhã.

O próximo arguido a prestar declarações é Hugo Carneiro (“Polaco”), que estará a ser acusado por Macaco e Sandra, que o apontam como responsável pelo ‘terror’ na AG.

Com prova documental, testemunhal e pericial forte, o tribunal decidiu levar a julgamento os 12 arguidos nos exatos termos da acusação deduzida pelo Ministério Público (MP).

A acusação refere uma alegada tentativa de os Super Dragões “criarem um clima de intimidação e medo” na Assembleia Geral do FC Porto em novembro de 2023, para que fosse aprovada uma revisão estatutária “do interesse da direção” do clube, então liderada por Pinto da Costa, que morreu no dia 15 de fevereiro passado.

Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno da AG do FC Porto, em novembro de 2023.

ZAP // Lusa

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