A hora de Pedro Nuno Santos ainda não chegou, mas o cenário está a compor-se

Patrícia de Melo Moreira / AFP

O primeiro-ministro António Costa com o ministro Pedro Nuno Santos

Depois das negociações possíveis à esquerda, a relação de António Costa com os antigos parceiros não ficou a melhor. Neste cenário, Pedro Nuno Santos pode assumir, num novo quadro político ditado pelas eleições antecipadas, mais protagonismo.

Diz o ditado que “quem espera sempre alcança” e Pedro Nuno Santos está preparado para esperar. O que é há muito visto como provável sucessor de António Costa na liderança do PS – deixou de contar com a companhia de Fernando Medina nessa contenda – sabe que a sua hora vai chegar – tem vindo, aliás, a prepará-la de forma premeditada e bem estudada – e o atual contexto de crise política ser-lhe-á, à partida, favorável.

Não lhe passando pela cabeça avançar de forma imediata. António Costa já garantiu que não se demite do cargo de primeiro-ministro – o que abre caminho à dissolução da Assembleia da República por parte de Marcelo Rebelo de Sousa – e que será ele a representar o Partido Socialista nas próximas legislativas. O objetivo, dentro do partido e do próprio Governo, é transmitir união e destacar que os portugueses têm no PS uma opção estável e viável, ao contrário dos partidos da oposição que se preparam para enfrentar as legislativas a meio de lutas internas que nada abonam a seu favor.

Mas se é verdade que entre das figuras mais proeminentes e atuais do partido a mensagem foi recebida, o mesmo não se pode dizer dos históricos. Ao longo dos últimos meses, foram muitos os apelos, muitas vezes sob a forma de artigos de opiniões impressos nos principais jornais diários do país, para que António Costa promovesse remodelações no Governo, de forma a prepará-lo para o desafio que seriam as negociações do Orçamento do Estado para 2022 e subsequente discussão. Costa não ouviu e parece ter-se dado mal.

Do lado de Pedro Nuno, existirá a ideia de que o cenário de “miniciclos” que poderá resultar das próximas legislativas lhe será particularmente positivas, escreve o Expresso. A propósito das últimas eleições para as federais distritais do PS, o atual ministro das Infraestruturas já conseguiu colocar em lugares de destaque alguns dos seus mais próximos, pelo que tudo leva a acreditar – sendo estas a elaborar as listas a deputados – que a próxima bancada parlamentar do PS também lhe será mais favorável. E assim se começa a desenhar um candidatura.

No que respeita às suas funções dentro de um Governo socialista, o semanário escreve que muitos são da opinião que Pedro Nuno deve passar a ter uma pasta “com mais peso político”, que lhe permita ter também mais espaço negocial à esquerda. A concordar, António Costa estaria a dar sinal verde a Pedro Nuno relativamente ao futuro, numa altura em que surgem notícias de que a relações entre os dois melhorou ao longo dos últimos meses.

Numa eventual solução governativa com os partidos de esquerda, há quem acredite que António Costa terá que ceder a posição de líder, na sequência das trocas de palavras acesas que teve sobretudo com Catarina Martins e outros dirigentes bloquistas. Perante a necessidade de construir pontes – e evitar a expansão da extrema-direita – Pedro Nuno Santos poderá ser mesmo parte da solução.

Os partidos à esquerda sabem-no. Durante o debate do Parlamento, Pedro Filipe Soares, líder da bancada do Bloco, evocou o nome do ministro numa resposta a Ana Catarina Mendes, sua homóloga socialista e também possível candidata ao cargo de secretária-geral do PS.

Na campanha eleitoral, o PS terá vários pregões que considera eficazes junto do eleitorado. Primeiro, vai assumir-se como “única alternativa” de Governo que não inclua a o Chega, depois, deverá fazer um forte apelo à mobilização do voto socialista e de esquerda, de forma a evitar uma maioria à direita, ou seja, que um cenário semelhante à eleição de Moedas, em Lisboa, se replique. Finalmente, apelar a uma “maioria reforçada, estável e duradoura”, colando os partidos à sua esquerda aos da direita – à luz do sentido de voto na sessão de aprovação do OE2022.

Este último ponto terá que ser feito com conta, peso e medida, de forma a não queimar as ditas pontes que se tornem o único caminho possível no rescaldo eleitoral. O cenário negocial alemão, decorrente das eleições de 26 de setembro (o mesmo dia em que se realizaram as eleições autárquicas em Portugal), é tido como um exemplo para os socialistas, empenhados em não deixar que a agressividade eleitoral não prejudique a governação do país.

ZAP //

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