A guerra na Ucrânia expôs as contradições das políticas migratórias no leste da Europa

Wotjwk Radwanski / AFP

Crise migratória na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia

Receio de que a Polónia possa ser o próximo alvo da Rússia tem motivado uma mudança de mentalidade na população do país, que faz os possíveis para acolher os cidadãos ucranianos a fugir da guerra.

Ao longo dos últimos anos, no plano europeu, a Polónia tem protagonizado, juntamente com a Hungria, o papel de má aluna, seja no que respeita a questões relacionadas com as liberdades de imprensa, judicial ou até individual. No entanto, foi a crise na sua fronteira partilhada com a Bielorrússia que no início do ano fez manchetes graças à política migratória de total intransigência no que respeita ao acolhimento de refugiados. Em pleno inverno, sucederam-se os relatos de migrantes mortos nas florestas como consequência das baixas temperaturas e da incapacidade das autoridades dos dois países em concertarem posições.

A atual crise migratória que a Europa enfrenta, decorrente da fuga de cidadãos ucranianos após a invasão russa ao seu país, veio sublinhar mais a dualidade de critérios dos referidos países que, também pela sua localização geográfica, têm liderado as listas com mais pedidos de asilo aceite, fazendo disso uma bandeira de solidariedade. De acordo com números recentes, quatro milhões de pessoas deixaram a Ucrânia desde o inicio do conflito, com a Polónia a receber 2.2 milhões de pessoas, mais do que qualquer outro país – e dez vezes mais do que a Alemanha.

Numa fase inicial, a Polónia não parecia preparada, mas com o passar das semanas até a população, que apoiava as chamadas políticas de portas-fechadas, mudou o seu posicionamento. De facto, nas áreas em que a ação governativa não tem sido suficiente ou não tem chegado, os cidadãos comuns chegaram-se à frente, oferecendo-se como voluntários – apesar de não ser claro até quando é que este caminho é sustentável.

Wojciech Bakun era até 24 de fevereiro um autarca com uma vida relativamente normal. Mas após a invasão mudou o seu escritório para uma divisão da estação de comboios de Przemyśl, onde trabalha numa pequena mesa. Enquanto membro de um pequeno partido populista de direita, Bakun dificilmente se viria a trabalhar ativamente numa operação de acolhimento de refugiados, mas agora parece apostado em ajudar no que pode.

A cidade tinha até há poucas semanas 60 mil habitantes, mas nos últimos dias mais de 50 mil pessoas chegaram vindas da Ucrânia. “Não tenho outra escolha a não ser mandar as pessoas avançar o mais rápido possível. O governo em Varsóvia está a coordenar comboios especiais e a providenciar dinheiro.” Ao dispôr do autarca está também um exército de voluntários, que rapidamente tomaram espaços como centros comerciais para acolher os cidadãos refugiados e proceder a tarefas como efetuar registos burocráticos ou cozinhar sopa.

Há também grupos a organizar e dividir os refugiados de acordo com os seus destinados pretendidos e posteriormente a efetuar viagens em carros privados ou pequenos autocarros. Entre alguns existe a crença que a Polónia pode ser o próximo país a sofrer uma invasão russa, o que constitui uma motivação extra para alguns dos envolvidos e vontade de querer ajudar.

Antes da invasão russa, mais de um milhão de ucranianos viviam na Polónia, com a maior parte deles a já acolher compatriotas. No entanto, há cada vez mais indivíduos a chegar sem qualquer tipo de contactos ou ajudas pré-estabelecidas. Em Varsóvia, dez mil refugiados estão a dormir em infraestruturas enormes, mas com pouco espaço individual para os muitos que lá se abrigam. O desejo é seguir em frente passados alguns dias, mas ninguém sabe para onde. Quando as autoridades tentaram recentemente levar as pessoas para Białystok no leste do país, por exemplo, os refugiados recusaram-se a partir.

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