A Gronelândia está a ganhar linha costeira. Porque é que isso é um problema?

Kavan, J., Szczypińska, M., Kochtitzky, W. et al.

A Gronelândia já ganhou 1600 quilómetros de linha costeira com o recuo dos glaciares. É quase o dobro da linha costeira de Portugal Continental. O que pode acontecer?

Quase 2500 quilómetros de linha costeira já surgiram em consequência do recuo dos glaciares para terra. Dois terços (1600 km) destes surgiram na Gronelândia. Para referência, Portugal Continental tem 943 km de costa.

Foram estas as descobertas de um novo estudo baseado em imagens satélite e publicado este mês na Nature.

O problema é que estas novas linhas costeiras são muito frágeis, podendo surgir deslizamentos de terra que culmina em tsunamis, o que ameaça gravemente as comunidades e a atividade económica, destaca a New Scientist.

“A linha costeira recentemente exposta não está consolidada“, afirma um dos autores, Jan Kavan. “Não está cimentada com gelo, o permafrost não está lá, por isso é muito fácil sofrer erosão. Estas linhas costeiras são provavelmente as mais dinâmicas do mundo”.

“Quando o glaciar desaparece, as encostas tornam-se instáveis porque deixam de ser suportadas pela massa de gelo”, explica. “Estas encostas são sensíveis a deslizamentos de terras ou quedas de rochas, ou a este tipo de acontecimentos catastróficos, que podem desencadear tsunamis.”

Em 2023 um episódio deste tipo já aconteceu: um tsunami de 200 metros de altura foi provocado por um deslizamento de terra. Em 2017, um tsunami chegou mesmo à população: destruiu 11 casas e matou 4 pessoas.

Os recursos do Ártico são cobiçados pelos Estados Unidos, já que a zona é rica em minerais essenciais, depósitos de elementos de terras raras e reservas inexploradas de petróleo e gás. No entanto, o novo estudo serve de alerta para a fragilidade das linhas costeiras.

“Por um lado, há novas terras a serem expostas com estes potenciais recursos naturais”, diz Kavan. “Mas, ao mesmo tempo, estes riscos naturais, como os deslizamentos de terras e os tsunamis, podem ameaçar as infraestruturas, que normalmente se situam na costa.”

ZAP //

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