A cor dos papagaios depende de um só átomo, explica um estudo português

Greg Hume / Wikipedia

Papagaio lory-escuro (Pseudeos fuscata)

ALDH3A2. Não é um conjunto aleatório de letras e números: é a enzima responsável pela cor dos papagaios. E um único átomo de oxigénio faz toda a diferença.

A enzima ALDH3A2 converte os pigmentos vermelhos dos papagaios em pigmentos amarelos. Quando as penas em desenvolvimento contêm grandes quantidades dessa enzima, acabam por ficar amarelas, e quando têm menos, ficam vermelhas.

Assim explica o The Conversation, que cita dois estudos: um publicado na Current Biology no dia 4 de novembro e coordenado por Daniel Hooper e um outro, liderado por um português, Roberto Arbore publicado na Science no dia 1 de novembro.

Foi a investigação portuguesa, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, que descobriu a enzima que dá cor aos papagaios, com recurso a análises ao lory-escuro (Pseudeos fuscata), um papagaio nativo da Nova Guiné com faixas de penas que podem ser amarelas, laranja ou vermelhas.

Quase todas as aves com penas ou bicos vermelhos, cor de laranja e amarelos brilhantes utilizam um grupo de pigmentos chamados carotenóides para produzir as suas cores, explica o The Conversation.

Mas estes animais não podem produzir carotenóides diretamente: têm de o fazer através da dieta (mais propriamente, das plantas que comem).

Os papagaios são a exceção a esta regra — desenvolveram uma forma totalmente nova de produzir pigmentos coloridos, os psitacofulvinas.

Mas o estudo de Hooper é igualmente revelador. O tentilhão de cauda longa (Poephila acuticauda) é uma espécie de ave canora nativa do norte da Austrália. Existem duas subespécies híbridas com bicos de cores diferentes. Uma é de bico amarelo e a outra é de bico vermelho.

A investigação de Hooper concluiu, então, que a cor do bico destes tentilhões estava sobretudo ligada a dois genes, CYP2J19 e TTC39B. No tentilhão de cauda longa, a coloração amarela resulta de mutações que desligam estes genes especificamente no bico, mantendo-os ligados noutras partes do corpo, como os olhos.

Os dois estudos devem ser compreendidos como um todo, por forma a ter um cenário mais abrangente, uma vez que mostram como as populações podem alterar a sua cor de forma natural.

O The Conversation compara a alteração de cor nos papagaios com a mudança de iluminação de uma sala instalando um regulador de intensidade num interrutor de luz existente, em vez de remover uma luz inteira.

Estes dois novos estudos mostraram-nos, assim, como alguns genes e a adição de um único átomo de oxigénio podem alterar o curso da evolução, alterando por completo a cor de um animal.

De acordo com o jornal, este estudo pode ainda ser a chave para o desenvolvimento de uma nova espécie no futuro.

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