Algo estranho se passa com os “sotaques” dos papagaios na Amazónia

Charles J. Sharp / Wikimedia

Uma nova pesquisa sugere que estas alterações serão uma adaptação dos animais devido à grande quebra da sua população, que caiu 92%.

Um novo estudo publicado na Proceedings of the Royal Society B revela que os papagaios-de-peito-amarelo (Amazona auropalliata) da Amazónia estão a alterar os seus chamamentos, levando os cientistas a acreditar que estas aves estão a desenvolver novos “sotaques”. Essa mudança, observada nas últimas décadas, pode ter implicações significativas para a sobrevivência da espécie.

Os papagaios-de-peito-amarelo são conhecidos por terem dialetos regionais, em que comunidades distintas de aves têm chamamentos únicos com base na sua localização, explica o Science Alert.

Estes dialetos têm sido documentados desde 1994. Inicialmente, o seu som era este:

Mas entre 2005 e 2016, os investigadores da Universidade Estatal do Novo México e da Universidade de Pittsburgh notaram uma mudança geográfica significativa nestes chamamentos, que passaram a ser assim:

Os papagaios nas regiões do norte da costa do Pacífico foram observados a usar chamadas anteriormente só ouvidas no sul. Em alguns casos, as aves eram mesmo capazes de utilizar ambos os sotaques, um fenómeno que os investigadores apelidaram de comportamento “bilingue”.

Esta adaptabilidade pode ser vantajosa, permitindo que os papagaios comuniquem com diferentes grupos, acedam a mais áreas de alimentação ou ganhem acesso a locais de repouso partilhados. Estas vantagens são especialmente cruciais agora, uma vez que o papagaio-de-peito-amarelo viu a sua população cair mais de 92% devido à destruição dos habitats e ao roubo ilegal de animais exóticos.

A mudança de dialetos pode ser um sinal de que as aves se estão a adaptar à dinâmica social em constante mutação das suas populações cada vez mais reduzidas. Embora os papagaios-de-peito-amarelo não tenham perdido a sua identidade, a mudança de sotaque sugere que alguns padrões culturais e acústicos estão a mudar.

Em última análise, os investigadores concluem que o acompanhamento destas alterações no comportamento vocal dos animais pode fornecer informações valiosas sobre a forma como o comportamento humano está a afetar as populações de animais selvagens.

ZAP //

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