Cimeira tem início a 31 de outubro, mas os sinais que chegam não são positivos, com muitos dos líderes e representantes dos principais países a apontar dedos aos que ainda não se comprometeram com metas mais básicas e antigas.
A 26.ª cimeira das partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, conhecida como COP26 decorre a partir do último dia deste mês de Outubro, em Glasgow. Nela, estão depositadas muitas esperanças de ambientalistas e jovens ativistas tendo em vista ações e políticas mais ambiciosas para mitigar, lutar e prevenir as alterações climáticas. No entanto, semanas antes de os trabalhos terem sequer início — ou de os líderes mundiais começarem a viajar para a Escócia — os primeiros alertas emitidos não são promissores.
Desde recusas de chefes de Estado em se deslocar até à cidade escocesa (será o caso de Putin ou de Xi Jinping), a avisos do presidente delegado para dirigir os trabalhos (alertando de que será ainda mais difícil alcançar acordos do que na cimeira de Paris) ou lamentos dos ativistas devido à inexistência de um líder político que se destaque na luta pela causa ambientalista, a cimeira parece já condenada ao fracasso.
Desta feita, foi a vez de João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e Ação Climática, também notar o seu estado de espírito “pouco otimista” em relação à reunião, relembrando que muitos países ainda não se comprometeram com objetivos mais ambiciosas para lutar contra as alterações climáticas. “Não estou ainda muito otimista, mas não quer dizer que as coisas não venham a correr melhor até lá“, afirmou. O governante português considera ainda que esta será “uma COP mais importante que todas as outras”, desde que os quase 200 países assinaram o Acordo de Paris.
Segundo Matos Fernandes, “há dias, ainda faltavam entregar 75 novas declarações de compromisso”, três das quais de países responsáveis por uma grande quantidade de emissões carbónicas: Índia, China e África do Sul, enumerou. Como tal, Matos Fernandes preferiu não avançar uma meta para a subida da temperatura global até 2100 que os países podem acordar em Glasgow. “2,5 graus até ao final do século XXI, com estes novos compromissos, era de facto um grande salto em frente. Seremos capazes desse número? Não tenho a certeza“, disse à Lusa.
“Se não conseguirmos, a COP, por muito que venhamos a dizer que correu bem, não vai correr tão bem como isso“, alertou.
Da parte portuguesa, Matos Fernandes destaca que Portugal foi o “país que foi o primeiro no mundo que disse que ia ser neutro em carbono em 2050 e o país que presidia à União Europeia quando se comprometeu com ser o primeiro continente neutro em carbono em 2050 e, depois disso, ter emissões negativas“, argumentou o ministro do Ambiente e da Ação Climática. Na sequência destes compromissos, Portugal vai ainda avançar com a promessa de “em dez anos contribuir com 35 milhões de euros para o financiamento aos países em vias de desenvolvimento que têm também que fazer um trajeto para apostar nas energias limpas”.
“Muitos destes países, mormente os que em África falam português, têm já problemas graves de adaptação e sabem bem já hoje quais são as consequências da mudança do clima” destacou o governante que aponta ainda outro tópico sensível da cimeira, a transparência.
“De uma vez por todas, temos de ter regras que sejam as mesmas para Portugal, para os Estados Unidos da América ou para a República Centro-Africana de como é que se contabilizam as emissões”, advogou. Na mesma linha, Portugal também defende que os créditos de emissões poluentes gerados desde o Protocolo de Quioto de 1997, “devem ser todos deitados ao lixo porque os valores que têm são muito discutíveis, com métricas muito estranhas, pouco transparentes e difíceis de comparar agora“.
“Temos sempre uma posição de negociação, mas a nossa posição de entrada é que esses créditos não fazem qualquer sentido“, reforçou o ministro do Ambiente. Matos Fernandes considerou que “é inevitável que seja ainda mais desafiante uma COP em tempos de crise energética, porque essa crise não tem rigorosamente nada a ver com sustentabilidade“. “A eletricidade encareceu porque o gás natural, que é o combustível fóssil, encareceu. Os combustíveis estão mais caros porque o bem original — petróleo — está mais caro”, disse.
“É essencial que todos se comprometam, também por razões de preço mais baixo e por razões de estabilidade no preço, a avançar muito depressa para um mundo neutro em carbono. Para o ter, temos mesmo que chegar a 2050 com um mundo mais eletrificado e com 100% da eletricidade gerada a partir de fontes limpas“, defendeu.
Apesar de considerar que “o discurso apocalíptico não acrescenta nada” ao esforço por um ambiente melhor, Matos Fernandes reconheceu que “uma posição mais alarmista tem sido determinante na consciencialização do cidadão comum”. “Nunca podemos é criar um discurso de ‘já não vale a pena’, esse temos que retirar de cima da mesa e, às vezes, o alarme pode fazer com que alguns encontrem esse álibi. Nenhum país se deve desculpar com os outros não fazerem”, concluiu.