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“A app não funcionava e as pessoas perceberam-no”. Um ano depois, o que aconteceu à Stayaway Covid?

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stayawaycovid.pt

Um ano depois, a associação de defesa dos direitos digitais D3 divulgou um relatório que faz a “autópsia” à aplicação Stayaway Covid e deixa críticas à ideia que o governo teve de a tornar obrigatória.

Foi há precisamente um ano que a aplicação de rastreio Stayaway Covid foi lançada – e a associação de defesa dos direitos digitais D3 voltou ao ataque, com um relatório que detalha as falhas, agora que chegou a hora “de realizar a autópsia”.

A aplicação móvel foi lançada a 1 de Setembro de 2020, com o objectivo de rastrear as redes de contágio por covid-19 de forma rápida e anónima, informando os utilizadores se tiverem estado na presença de alguém infectado nos últimos 14 dias. O uso obrigatório  chegou também a estar em cima da mesa.

No Relatório Público Stayaway, a D3 faz uma “análise extensa de todo o ciclo de vida da “app””, abordando o que “correu mal” e pode ser feito “melhor” numa próxima vez.

“Quando alguns ainda insistem em abanar o cadáver e alegar que está de boa saúde, sentimos que é bem altura de realizar a autópsia. Este documento é o resultado de mais de um ano de trabalho a reunir estudos, dados e notas de imprensa, analisá-los e tirar conclusões de toda esta experiência”, afirma Ricardo Lafuente, vice-presidente da D3.

A experiência foi um “fracasso total da abordagem tecno-deslumbrada que exalta as apps e as ‘soluções inovadoras’, desprezando as pessoas, a legislação e qualquer contributo por parte de outra área que não a técnica, como as ciências sociais”, defende Lafuente.

Uma das principais razões para o insucesso da aplicação é a tentativa do governo de tornar a app obrigatória, que “teve um efeito claríssimo no declínio da adopção da aplicação”.

“No entanto, os proponentes da “app” insistiram em culpar os médicos, uma classe profissional profundamente agastada pela crise pandémica e, concluímos, sem qualquer responsabilidade no fracasso da aplicação”, lê-se no texto.

A associação acrescenta que a app “não funcionava e as pessoas perceberam-no”, e critica a falta de “admissão de falhas” e a substituição das gigantes tecnológicas Google e Apple ao Estado na “definição da arquitetura de uma medida de saúde pública”.

“Este é um precedente preocupante na medida em que constitui uma efectiva privatização de uma parte importante dos esforços de combate à pandemia”, explica o documento.

A Google tinha também conhecimento da “falha de segurança grave nos dispositivos Android que permitia acesso indevido a dados pessoais dos utilizadores” meses antes de investigadores independentes a terem descoberto, aponta a D3, e não houve “qualquer auditoria ou investigação por parte do governo ou outra autoridade”.

Já a alteração legislativa que visava facilitar algumas funcionalidades da Stayaway Covid “veio tardíssimo”, tendo-se pedido “a oportunidade de fazer a diferença em tempo útil”.

“Mesmo quando a “app” já estava moribunda, a passarem vários dias sem um único código introduzido na aplicação, os seus proponentes e o Governo insistiam na sua promoção junto dos meios de comunicação”, critica a D3, e acusa os responsáveis de falharem na divulgação das conclusões da experiência.

A aplicação Stayway Covid foi criada pelo INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência. Em Abril, Rui Oliveira, administrador do instituto e coordenador da app, afirmou que todos os responsáveis tinham culpa.

Falhámos todos: eu falhei, a minha equipa falhou, o Ministério da Saúde falhou”, disse numa entrevista ao Expresso.

Adriana Peixoto, ZAP //

19 Comments

  1. O que é que isto significa “(…) que aponta faz a “autópsia”? (Ver primeiro parágrafo.)
    Não deveria ser “(…) que faz a “autópsia”?

    Cumprimentos.

  2. Mas o dinheirinho para o desenvolvimento desta aberração ficou, e vai ser pago por nós.

    Potencialmente teve o efeito desejado ,era só para pagar a alguém, no meio da confusão todos quiseram tirar um pedaço.

    Quando esta brincadeira acabar deveriam avaliar quem enriqueceu com o covid em todos os espectros da sociedade.

  3. Embora não esteja muito de acordo com a análise da D3 o que me chocou mais foram os valores que os responsáveis pela App consideraram terem incorrido.
    Digo isto porque a parte mais complexa da aplicação foi feita gratuitamente pela Google e a Apple pelo que a restante parte não podem ter custado tanto. Alguém andou a sacar dinheiro indevidamente e o Governo incompetente assim o permitiu

  4. Ainda bem porque eu já andava preocupado, sem dinheiro para comprar um smartphone, estava com receio de ir preso, ainda pedi ao 1º ministro para me enviar um, mas fez ouvidos de mercador.

  5. A Analise feita pela 3D parece correctissima, em todos os tabuleiros. De resto, ha’ quem na Academia de ha’ muito ja’ alerte para a necessidade de temperar o dominio da Tecnologia com o conhecimento serio sobre a sociedade (ou seja, engenharia e ciencias sociais em conjunto) e ja’ ha’ muito trabalho publicado com muitos exemplos similares a esta analise, como seja o Doutoramento em e-Planning oferecido na Universidade de Lisboa e a Universidade Nova de Lisboa. Bem bom seria que os “deslumbrados” pelas “apps” tirassem esse curso… e ja’ agora, tambem os fas dos Googles e das Apples, deveriam reflectir qual o custo do “gratis”, e perceber que a violacao de dados privados nao e’ um “bug”, e’ todo o modelo de negocio ! Como dizem os tais e-planning.org, “nao ha’ almocos gratis… a nao ser que voce seja o almoco !” (www.e-planning.org)

  6. Pois, ainda bem que Portugal está bem servido com institutos, com associações sem fins lucrativos, com laboratórios associados, com universidades, e com uma misturada disto tudo!
    É que é só gente boa, competente e que não gasta um cêntimo do dinheiro dos contribuintes.
    Já imaginaram o que seria se a app tivesse sido desenvolvida por uma empresa (essa gente malandra que está convencida de que é a trabalhar que se ganha dinheiro!) e se essa empresa que tivesse ganho o contrato num concurso público?!
    Ai meu deus, nem quero pensar no azar que teríamos tido…

  7. Esta aplicação deve ter sido feita pelos gajos que fizeram as golas antifogo. E se calhar, são os mesmos que, através de uma agência de viagens, vendem máscaras ao Estado Português. Só quem não quer, não vê: O PAÍS ESTÁ A SAQUE!

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