Há portugueses vítimas de “escravidão moderna” em França, de acordo com a Santa Casa da Misericórdia de Paris (SCMP) que organiza, dia 4 de outubro, uma corrida de angariação de fundos para ajudar os emigrantes mais carenciados.
Vítor Rosa, coordenador-geral da SCMP, relatou à agência Lusa dois exemplos de portugueses que a instituição ajudou recentemente em Paris, como um trabalhador que tinha ido para a Bélgica “com uma promessa de trabalho e de alojamento e quando chegou ao destino não tinha nem uma coisa nem outra” e outra pessoa que passou dois meses a trabalhar nas obras sem poder sair do local de trabalho.
“Escravidão moderna é, por exemplo, o indivíduo que esteve dois meses a trabalhar nas obras sem poder sair do espaço das obras. Ele estava completamente traumatizado. O patrão não o deixava sair e o homem trabalhava de manhã à noite, sem qualquer pagamento, dormindo nos estaleiros das obras”, contou Vítor Rosa.
O português foi parar ao hospital e a Misericórdia de Paris ajudou-o com um intérprete, depois de ter sido solicitada pelo Consulado-Geral de Portugal em Paris, que “não tem meios para fazer face aos pedidos que tem”, explicou Vítor Rosa.
“O que aparece [à Santa Casa] são situações de precariedade descomunal. Este caso de escravidão moderna foi dos primeiros. Pensei que estivéssemos longe dessa realidade mas acontece muito nas obras, em que as pessoas vêm sem contratos”, continuou, acrescentando que também teve conhecimento de casos de sem-abrigo portugueses e lusodescendentes a viver nas ruas da capital francesa.
Vítor Rosa explicou, ainda, que a nova vaga de emigração “é muito heterogénea em termos de idades e de formações”, havendo “pessoas letradas e iletradas” e “nem todos os que vêm com um canudo conseguem um trabalho compatível” até porque “muita gente chega aqui sem falar uma palavra de francês”, abordando a Misericórdia de Paris para apoio à formação linguística.
Além de receber “várias pessoas que batem à porta, muitas desempregadas e à procura de alojamento”, a Santa Casa distribui bens alimentares ao longo do ano a “cerca de 120 a 130 famílias” graças às “perto de três mil toneladas” de bens que recolhe no natal.
Por outro lado, a instituição chega a pagar noites de hotel a quem não tem alojamento e já pagou viagens de regresso a Portugal, ajudando ainda os emigrantes na procura de trabalho graças a “uma bolsa solidária de várias empresas portuguesas”.
Vítor Rosa acrescentou que a Santa Casa de Paris também ajuda os reformados portugueses com uma baixa pensão porque “trabalharam grandes períodos sem descontar”, fornecendo também apoio psicológico através de visitas domiciliárias e permanências.
A instituição também dá um apoio a cerca de 250 presos portugueses em França e gere doze jazigos porque “é preciso cuidar dos que partem e não apenas dos que ficam nesta miséria do mundo, como diria o sociólogo Pierre Bourdieu”, continuou Vítor Rosa.
Como a Misericórdia de Paris “não tem meios financeiros para dar resposta a tudo”, a instituição vai organizar uma corrida para angariar fundos, em Jouy-en-Josas, nos arredores de Paris, no próximo dia 4 de outubro, esperando contar com a participação de vários portugueses que poderão correr ao lado da atleta convidada Fernanda Ribeiro.
/Lusa
Eles que peçam asilo como refugiados e ficam com o problema resolvido.