A China vai desviar um asteroide a dezenas de milhões de quilómetros da Terra

Uma missão da agência espacial chinesa vai lançar duas sondas ao encontro de um pequeno asteroide: uma para observar e recolher dados e outra para colidir a alta velocidade com o corpo celeste, e alterar-lhe a órbita em apenas 3 a 5 centímetros — o suficiente para o desviar da Terra, se para cá viesse.

Os asteroides são por vezes descritos como “fósseis” do Sistema Solar, contendo metais como ferro, níquel e platina que podem revelar pistas sobre a formação dos planetas.

Mas os asteroides próximos da Terra (Near Earth Objects) representam também uma das maiores ameaças existenciais para a Humanidade: mesmo um objeto com apenas algumas centenas de metros de diâmetro poderia causar danos generalizados se colidisse com o nosso planeta.

Os registos geológicos mostram que impactos deste género já aconteceram no passado — e provavelmente voltarão a acontecer.

Segundo o South China Morning Post, o Governo chinês está a preparar-se para testar um método direto de defesa planetária, enviando uma sonda para colidir com um asteroide e alterar-lhe a trajetória.

Wu Weiren, engenheiro-chefe do programa de exploração lunar da China, anunciou que está prevista para este ano uma missão de demonstração de impacto cinético, embora ainda não tenha sido divulgada uma data concreta de lançamento.

Caso tenha êxito, a China tornar-se-á o segundo país, depois dos Estados Unidos, a conseguir alterar a órbita de um objeto celeste.

O plano da missão

Wu explicou que o teste incidirá sobre um pequeno asteroide localizado a dezenas de milhões de quilómetros da Terra. A missão recorrerá a duas sondas: uma para observar e recolher dados e outra para colidir a alta velocidade com o asteroide. O evento será monitorizado por telescópios no solo e no espaço.

O objetivo será alterar a órbita do asteroide apenas entre 3 e 5 centímetros.

Apesar de esta ser uma mudança mínima, serve para demonstrar o princípio da defesa planetária: se estas alterações forem feitas com antecedência, mesmo pequenas variações podem evitar uma colisão que, de outro modo, poderia acontecer anos mais tarde.

Wu delineou ainda um plano mais abrangente para um sistema chinês de defesa contra asteroides, que incluirá alerta precoce, resposta em órbita e preparação coordenada.

Sublinhou que o impacto cinético será a abordagem principal, mas admitiu que no futuro poderão ser integradas outras tecnologias. Wu manifestou também interesse em partilhar dados e colaborar com outros países na criação de uma capacidade conjunta de defesa planetária.

A seguir os passos da DART

O plano da China surge quase três anos depois da missão DART (Double Asteroid Redirection Test) da NASA, que em setembro de 2022 fez colidir propositadamente uma sonda com o asteroide Dimorphos, que ficou deformado e mudou de órbita.

A missão conseguiu encurtar em 33 minutos a órbita de Dimorphos em torno do seu corpo principal, Didymos — um resultado muito além das expectativas dos cientistas.

A DART foi a primeira missão a demonstrar que é possível desviar um asteroide, transformando a defesa planetária de um conceito teórico numa técnica prática, nota o The DeBrief.

Se a China concretizar o seu teste, dará um segundo exemplo — desta vez por parte de um país que está a avançar rapidamente no seu programa de exploração do espaço profundo.

O programa espacial chinês tem registado progressos rápidos nos últimos anos. A sonda Tianwen-2, lançada em maio, irá recolher amostras do asteroide 2016 HO3 e mais tarde investigar um cometa da Cintura de Asteroides.

As missões lunares chinesas já colocaram no terreno módulos de aterragem, veículos de exploração e orbitadores. O teste de desvio de asteroides representa um novo passo: da exploração para a defesa planetária.

A importância da defesa planetária

Os avanços na tecnologia de deteção têm permitido identificar cada vez mais objetos próximos da Terra. Em 2021, estavam já catalogados mais de 26 mil NEOs, mais de 2.100 dos quais considerados potencialmente perigosos pela NASA.

A maioria não representa uma ameaça imediata, mas mesmo um pequeno número pode constituir um risco significativo.

Os registos geológicos da Terra mostram bem as consequências de impactos de asteroides. A extinção dos dinossauros, há 66 milhões de anos, foi provocada pelo impacto do mítico Chicxulub, um asteroide com cerca de 10 quilómetros de diâmetro — que poderá não o ter feito sozinho.

Em 2013, um asteroide com apenas 20 metros explodiu sobre Chelyabinsk, na Rússia, ferindo mais de mil pessoas. Este episódio mostrou que mesmo pequenos asteroides podem provocar grandes danos em zonas habitadas.

Especialistas em defesa planetária sublinham a necessidade de preparação global.

Em 2023, os Estados Unidos publicaram uma estratégia nacional de defesa planetária com um plano de dez anos para melhorar a deteção, modelação e resposta a ameaças de asteroides. Como os impactos podem afetar todo o planeta, a cooperação internacional é essencial.

O anúncio da China mostra bem a combinação de rivalidade e colaboração neste domínio: reflete a competição tecnológica com os EUA, mas também evidencia, como sublinhou Wu, que proteger a Terra de asteroides é uma tarefa que só pode ser cumprida em conjunto.

Ainda não é certo se a missão chinesa será lançada este ano, já que não existe data marcada. Mesmo assim, os esforços da China e dos EUA para desviar asteroides representam progressos significativos. A defesa planetária está a tornar-se um campo prático da ciência e engenharia espaciais.

ZAP //

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