spirosk / Flickr

Fila para um banco em Atenas
Muitos ainda têm a imagem de “gregos falidos” na cabeça. Mas a Grécia está a surpreender; pragmatismo em vez de pessimismo.
O sul da Europa era o “alvo” nos tempos da troika. Portugal, Espanha, Itália e Grécia formavam o denominado PIIGS (que juntava a Irlanda também), o grupo de países que não eram “porcos” mas sim países mais frágeis a nível económico.
O foco era a Grécia, na maioria das vezes. Durante a crise da dívida soberana europeia (principalmente entre 2010 e 2015), a Grécia foi muitas vezes descrita como estando tecnicamente falida. Não era um “país falido” mas quase.
O défice atingia recordes, o país não conseguia pagar a dívida pública sem ajuda externa, era alvo de sucessivos programas de resgate de União Europeia, Banco Central Europeu e FMI (troika), a confiança internacional era cada vez menor.
Mas esqueçam esse país em insolvência técnica. As maiores dificuldades ficaram para trás e agora a Grécia está a surpreender as pessoas com reformas práticas.
A editora-chefe adjunta do Handelsblatt, Kirsten Ludowig, admite que a imagem que ainda reina na sua cabeça é a dos “gregos falidos”.
No entanto, a realidade agora é outra: o país está a gerar excedentes orçamentais, a sua elevada taxa de endividamento está a diminuir e a economia está a crescer duas vezes mais depressa do que a média da União Europeia.
Continua a haver muitos desempregados, continuam a faltam trabalhadores qualificados, os rendimentos ainda são baixos e o investimento é lento – mas o Governo grego está a avançar em muitos aspectos.
O crescimento do PIB aparenta ser robusto: cerca de 2,3% em 2024, com previsões de 2,3% em 2025 e 2,2% em 2026, impulsionado por consumo interno sólido e investimentos com apoio europeu.
A dívida pública diminuiu em mais de 40 pontos percentuais desde 2020, situando-se em aproximadamente 154% do PIB em 2024.
Também no ano passado, registou-se um superavit orçamental de 1,3 % do PIB; em 2025 espera-se um superavit primário contínuo de cerca de 2,4%.
O sistema bancário estabilizou-se: redução acentuada dos activos tóxicos, lucros recuperados, e regresso dos bancos aos pagamentos de dividendos pela primeira vez desde 2009.
A inflação está a abrandar, o desemprego está a cair – de 10,1% no ano passado para uma previsão de 8,7% no próximo ano.
As reformas fiscais – como combate à evasão fiscal e controlo de despesas – foram fundamentais para esta melhoria geral.
A Moody’s considerou que a Grécia “está a regressar à normalidade europeia”, graças às finanças públicas recuperadas, estabilidade política e reformas no sistema fiscal.
A esta trilogia juntam-se outros factores: disciplina orçamental, controlo rigoroso das contas públicas, crescimento do turismo, reestruturação da dívida, transformação digital na administração pública, forte capacidade de reacção à COVID-19 investimentos estrangeiros e fundos europeus.
Crescimento firme, redução da dívida, superavits orçamentais, inflação em queda, bancos estabilizados e o investimento a regressar.
Um caso destacado no Handelsblatt é o da Ministra do Trabalho e Assuntos Sociais, Niki Kerameos: vai apresentar uma lei que permite horários de trabalho mais flexíveis e mais ou menos trabalho em determinadas semanas, conforme necessário.
Está também prevista uma semana de quatro dias. O modelo grego permite que o horário de trabalho padrão de 40 horas semanais seja distribuído por quatro dias de 10 horas cada.
Será “uma lei que decorre da experiência prática”, justificou a ministra, que recebeu e aceitou muitas sugestões de empregados e empregadores.
Esta colaboração, todos com o mesmo objectivo, atinge diversos sectores.