Colono israelita matou a tiro palestiniano que participou em No Other Land. “É terrorismo”, diz França

Basel Adra/X

Awdah Muhammad Hathaleen tinha 31 anos.

“Disparou como um louco”, denunciou, apoiado por um vídeo do momento trágico, um dos codiretores do documentário vencedor de Óscar.

Um colono israelita assassinou na segunda-feira a tiro o ativista palestiniano Awdah Muhammad Hathaleen, professor de inglês, contribuidor para a revista israelo-palestiniana +972 e participante no documentário “No Other Land”, que foi distinguido com um Óscar este ano.

A notícia foi avançada pela revista e por um dos codiretores do documentário, Yuval Abraham, na rede social X, que identificou o assassino como Yinon Levi, sob sanções dos EUA e da UE, e acrescentou um vídeo em que este aparece “a disparar como um louco”.

Avisamos que o vídeo que partilhamos de seguida, que foi partilhado por Abraham, pode ferir suscetibilidades pela sua violência.

Por seu lado, a Autoridade Palestiniana, via Ministério da Educação, adiantou nas redes sociais, que “o professor (…) foi abatido pelos colonos, na segunda-feira, 28 de julho de 2025, durante um ataque à localidade de Umm al-Khair”, perto de Hebron, no sul da Cisjordânia.

A polícia israelita informou sobre a abertura de um inquérito a um “incidente ocorrido perto da localidade de Carmel”, um colonato nas proximidades de Umm al-Khair.

No Other Land: Hathaleen não foi o primeiro a sofrer às mãos dos colonos

Awdah Hathaleen era um habitante da região de Massafer Yatta, no sul de Hebron. Com vizinhos, tinha participado na chamada de atenção para esta região declarada zona militar por Israel.

Depois de um longo processo judicial o Supremo Tribunal israelita deu razão aos militares, o que abriu a porta à expulsão dos habitantes das oito localidades da região.

Awdah Hathaleen, que dava aulas de Inglês, tinha participado no documentário “No Other Land” (trailer aqui), consagrado à luta dos palestinianos nesta região, comentou o correalizador, Yuval Abraham.

Já em março, o ZAP noticiava que o realizador do documentário foi espancado por colonos e soldados israelitas. Hamdan Ballal, que venceu o Óscar de Melhor Documentário, “esteve algemado e vendado durante toda a noite, numa base do exército enquanto dois soldados o espancavam no chão, disse a sua advogada Leah Tsemel depois de falar com ele” denunciou também Yuval Abraham na altura.

Cerca de três milhões de palestinianos vivem na Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967, ao lado de meio milhão de colonos israelitas, em colónias consideradas ilegais pelo Direito Internacional Público.

O documentário é trabalho de quatro diretores – Hamdan Ballal, Basel Adra, Abraham e Rachel Szor e reflete a situação em Adra, uma aldeia palestiniana no extremo sul da Cisjordânia. O documentário reflete a destruição da localidade pelos israelitas, a falta de oportunidades para os palestinianos e o risco de expulsão das suas terras.

A polícia israelita admitiu ter aberto uma investigação, mas não confirmou a morte de Awdah Muhammad Hathaleen, que colaborou no documentário

França condena “terrorismo”

O governo francês classificou esta terça-feira a violência dos colonos judeus na Cisjordânia como atos de terrorismo, numa referência ao assassínio do ativista palestiniano.

“A França condena este assassínio da forma mais veemente possível, bem como todos os atos deliberados de violência perpetrados por colonos extremistas contra a população palestiniana, que estão a aumentar em toda a Cisjordânia”, disse um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês.

“Esta violência é um ato de terrorismo”, declarou.

Esta é a primeira vez que a diplomacia francesa descreve as ações dos colonos judeus desta forma.

“Os colonos mataram mais de 30 pessoas desde o início de 2022. As autoridades israelitas devem assumir a responsabilidade e punir imediatamente os autores desta violência, que continua em total impunidade, e proteger os civis palestinianos”, acrescentou.

ZAP // Lusa

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