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Centeno fala sobre saída do Banco de Portugal e não admite que duvidem da sua independência

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Mário Cruz / Lusa

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno

Decisão da substituição só cabia ao Governo: “Foi assim que foi feito é assim que deve ser feito. Respeito, obviamente”.

O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, diz respeitar a decisão do Governo de não ser reconduzido, garante que sai sem “desilusões” e responde às críticas sobre a sua atuação dizendo que a independência do banco não mudou.

Numa entrevista à RTP, o atual governador disse que sempre foi independente na sua atuação.

“A minha independência não pode ser posta em causa por ninguém, eu sempre usei aquilo que é a massa critica do banco para os trabalhos que foram divulgados. O banco não mudou de atitude”, defendeu-se, numa resposta às críticas de que tem sido alvo de não ter liderado a instituição com independência.

Centeno disse respeitar a decisão do executivo de escolher outro nome para a liderança da instituição. “A decisão que foi tomada é uma decisão que só cabia ao Governo, foi assim que foi feito é assim que deve ser feito. Respeito, obviamente, todas essas decisões”, respondeu, sobre o facto de o executivo ter escolhido Álvaro Santos Pereira como novo governador.

Questionado se entende a não-recondução como um “chumbo”, uma apreciação negativa sobre o seu trabalho, Centeno disse que essa pergunta não deve ser dirigida a si.

Mário Centeno, que chegou a manifestar estar disponível para continuar no BdP, defendeu agora o seu mandato dizendo que tem “resultados claríssimos” para apresentar, entre eles a estabilização do sistema financeiro. Disse ainda que o seu trabalho de serviço público “está aí para ser avaliado”.

“Todo este meu trajeto foi marcado por uma característica de estabilização do sistema financeiro muito significativa, de reforço da posição de Portugal internacionalmente, estou muito satisfeito por todos estes anos de serviço público e é isso que a mim é mais importante”, elencou.

Quanto ao seu estado de espírito por não ter sido reconduzido, Centeno disse que “não pode haver desilusões nestes momentos” e afirmou que, enquanto governador, estava a desempenhar um serviço público que procurou cumprir “da forma o mais competente que soube”.

Ao sucessor indigitado pelo Governo, o economista Álvaro Santos Pereira, Centeno desejou felicidades quando foi questionado se tem alguma opinião sobre o perfil do sucessor, que é o economista-chefe da OCDE e foi ministro da Economia no Governo de Pedro Passos Coelho (PSD/CDS-PP) entre 2011 e 2013.

Muitas felicidades para o professor Álvaro Santos Pereira nas novas funções”, respondeu apenas.

O edifício e as dúvidas

Mário Centeno confirmou que o Ministério das Finanças conhece “todas as informações” sobre a compra das novas instalações da instituição em Lisboa e considerou “muito leviano” o leque de dúvidas levantadas.

Justificou a decisão do conselho de administração do BdP de celebrar o contrato de compra e venda do futuro edifício com a Fidelidade em maio, quando já estava em fim de mandato, dizendo que o projeto era há muito “um desejo geracional” no BdP.

“Passaram oito governadores e 22 ministros das finanças até conseguirmos hoje chegar a este ponto. É com enorme ansiedade e até expectativa que o banco vê este passo”, defendeu-se, sobre a consumação de avançar com o projeto de construção do novo edifício nos terrenos da antiga Feira Popular, em Entrecampos.

Questionado se, não tendo a certeza de que seria reconduzido, era a pessoa certa para fechar o acordo, Centeno respondeu que o BdP esteve desde finais de 2023, “um ano e meio”, a trabalhar no projeto, num trabalho que envolveu “largas dezenas de pessoas”, de “dentro e fora do banco, com os melhores assessores jurídicos, técnicos, engenheiros que existem no país”.

As explicações de Centeno surgem depois de o jornal ‘online’ Observador ter noticiado que o valor do edifício será superior aos 191,99 milhões de euros consagrados no contrato de compra e venda, estimando o jornal que o custo total possa subir para 235 milhões de euros, porque o primeiro montante diz respeito apenas às obras estruturais.

Sem querer comentar as posições públicas do Ministério das Finanças, que pediu uma auditoria à Inspeção Geral de Finanças e fez saber não estar a par de toda a informação sobre as implicações da operação, Centeno assegurou que “o Ministério das Finanças recebeu toda a lista de questões que estavam levantadas no edifício em fevereiro deste ano, juntamente com as avaliações numa data posterior quando elas foram concluídas e com o contrato de promessa de compra e venda”.

Foram dadas todas as informações que respeitavam ao contrato de promessa de compra e venda, aos alertas, à forma como o banco tratou os alertas, ao custo nas avaliações”, insistiu Centeno.

O governador assegurou ainda que o ministério liderado por Joaquim Miranda Sarmento “também foi informado de que o custo não era aquele que já estava contratado [192 milhões e que] havia outras verbas” a ter em consideração. Houve um um “rigor financeiro inquebrantável” por parte da instituição, assegura.

Quanto ao valor final, Centeno rejeitou confirmar qual será, porque “se o Banco de Portugal estivesse a divulgar essas estimativas, estava a comprometer-se com valores financeiros que depois iriam ser utilizados pelas empresas a que vamos recorrer como valores de referência e isso era um desastre financeiro”.

No entanto, assegurou que esses valores “foram partilhados com o Ministério das Finanças”, por isso, considerou “muito leviano que se levantem dúvidas sobre estas relações contratuais feitas pelo banco central”.

“A estimativa que eu posso dar, com toda a transparência, foi aliás a primeira vez que um processo desta natureza teve este tipo de divulgação, nunca antes isso tinha acontecido, são 192 milhões de euros, é um edifício comprado nas condições em que eles são vendidos”, disse.

Centeno explicou ainda que foram feitas duas avaliações do edifício e que o banco “seguiu a de menor valor, pelo rigor financeiro, “depois de um debate interno muito grande, com dúvidas sobre como se deveria, do ponto de vista jurídico, reagir a estas duas avaliações”.

ZAP // Lusa

1 Comment

  1. O Ronaldo das contas próprias, (ressabiado) vai trabalhar para a dona do Novo Banco … e “quem tem 10 valores não entra no banco de Portugal”…pois só com cunha!

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