A maioria dos professores gosta do que faz e sente-se realizado, mas não considera a carreira atrativa, entende que os salários são baixos e, por isso, não incentivaria um jovem a escolher a profissão.
Os professores ensinam-nos, enriquecem-nos, ajudam-nos. São parte fundamental da nossa educação. No entanto, não recomendam que sejamos como eles.
A maioria gosta do que faz, sente-se realizada, mas não incentivaria um jovem a escolher a profissão.
O retrato é traçado nos resultados, divulgados esta sexta-feira, da consulta nacional promovida pela Federação Nacional da Educação (FNE) e pela Associação para a Formação e Investigação em Educação e Trabalho (AFIET).
Realizado entre 13 e 27 de julho, o inquérito foi feito a 4.638 professores, do pré-escolar ao secundário, e há opiniões quase unânimes, desde logo o gosto pela profissão.
De acordo com os resultados, 94,4% gostam de ser professor e perto de oito em cada 10 dizem sentir-se realizados no exercício profissional.
A felicidade e os sentimentos positivos não têm, no entanto, reflexo naquilo que pensam sobre as condições de trabalho.
“Somos pais, psicólogos, enfermeiros…”
Mais de 90% dos inquiridos consideram trabalhar muito para aquilo que recebem e entendem que os salários não estão ao nível das qualificações e competências exigidas.
Mais de 70% dizem que a profissão não é globalmente reconhecida, a carreira não é atrativa, e sentem-se constantemente avaliados e julgados.
“Sou professora há 39 anos. Gosto do que faço, mas não sinto que sejamos valorizados; e somos mal pagos“, disse uma educadora de infância, ao ZAP.
“Somos pais, psicólogos, enfermeiros… Há um poema que diz que ‘ser professor é ser artista, malabarista, pintor, escultor, doutor, musicólogo, psicólogo, investigador’… e é bem verdade”, aponta a mesma professora.
Sê feliz, “mas não faças o que eu faço”
Pelos motivos acima enumerados, e apesar de gostarem do que fazem, a maioria dos professores (73,2%) não incentivaria um jovem a escolher a carreira docente.
Numa espécie de balanço do último ano letivo, o ‘ranking’ dos maiores desafios enfrentados pelos docentes é liderado pelo trabalho administrativo, seguindo-se a necessidade de responder à diversidade das necessidades específicas de cada aluno, a conciliação entre o trabalho e vida pessoal e a indisciplina em sala de aula.
Para mais de metade (55,7%) faltaram recursos e apoios para trabalhar com os alunos e 44,8% gastaram mais tempo, face ao ano anterior, em tarefas burocráticas que a maioria considera pouco úteis ou inúteis.
Questionados sobre as prioridades de investimento na sua escola, o apoio a alunos com necessidades especificas é a resposta mais frequente (19,2%), seguida do reforço de pessoal de apoio educativo (18,8%) e de pessoal docente (16,7%).
Cerca de 11% referiram também o reforço de recursos materiais e de técnicos especializados e 8% apontam a melhoria da climatização das salas de aula.
Atualmente, dois dos principais desafios referidos pelos professores são a falta de apoio dos pais, a sensação de “stress”, devido à gestão constante de situações de indisciplina.
Miguel Esteves, ZAP // Lusa