Ao contrário do que se poderia esperar, os jovens abaixo dos 35 anos são o grupo demográfico mais propenso a acreditar em teorias da conspiração. A falta de representativade de jovens no sistema político é um dos fatores.
As teorias da conspiração são uma ocorrência generalizada no mundo hiperconectado e polarizado de hoje.
Acontecimentos como o Brexit, as eleições presidenciais norte-americanas de 2016 e 2020 e a pandemia da COVID-19 servem como poderosos lembretes da facilidade com que estas narrativas se podem infiltrar no discurso público.
As consequências para a sociedade são significativas, dado que a devoção às teorias da conspiração pode minar as normas democráticas fundamentais e enfraquecer a confiança dos cidadãos nas instituições críticas. Como sabemos pelo motim de 6 de Janeiro no Capitólio dos EUA, isto também pode motivar a violência política.
Mas quem tem maior probabilidade de acreditar nestas conspirações?
Um novo estudo da Universidade de Ottawa fornece uma resposta clara e talvez surpreendente. Publicada na revista Political Psychology, a investigação mostra que a idade é um dos preditores mais significativos das crenças conspirativas, mas não da forma que muitos poderiam supor.
As pessoas com menos de 35 anos são consistentemente mais propensas a apoiar ideias conspirativas.
Esta conclusão baseia-se numa base sólida de evidências. Em primeiro lugar, foi feita uma meta-análise, um “estudo de estudos”, que sintetizou os resultados de 191 artigos revistos por pares publicados entre 2014 e 2024.
Este enorme conjunto de dados, que incluiu mais de 374 000 participantes, revelou uma forte associação entre a idade jovem e a crença em conspirações.
Para o confirmar, os autores realizaram o seu próprio inquérito multinacional original com mais de 6000 pessoas em seis países diferentes: Austrália, Brasil, Canadá, Alemanha, EUA e África do Sul.
Os resultados foram os mesmos. De facto, a idade tem-se revelado um preditor mais poderoso das crenças conspirativas do que qualquer outro fator demográfico que mediram, incluindo o género, o rendimento ou o nível de educação de uma pessoa.
Porque é que os jovens são mais conspiratórios?
1. Alienação política
Um dos factores mais poderosos identificado é um profundo sentimento de insatisfação política entre os jovens.
A maioria dos jovens sente-se alienada dos sistemas políticos geridos por políticos duas ou três gerações mais velhos do que eles.
Esta sub-representação pode levar à frustração e à sensação de que a democracia não está a funcionar para eles. Neste contexto, as teorias da conspiração oferecem uma explicação simples e convincente para esta desconexão: o sistema não só está a falhar, como também está a ser secretamente controlado e manipulado por atores nefastos.
2. Estilo ativista de participação
A forma como os jovens escolhem participar na política também desempenha um papel significativo.
Embora possam ser menos propensos a envolver-se em práticas tradicionais, como o voto, muitas vezes envolvem-se bastante em formas não convencionais de participação, como protestos, boicotes e campanhas online.
Estes ambientes ativistas, particularmente online, podem tornar-se um terreno fértil para a germinação e disseminação de teorias da conspiração. Baseiam-se frequentemente em narrativas semelhantes de “nós contra eles”, que colocam um grupo interno “justo” contra um establishment “corrupto”.
3. Baixa autoestima
Finalmente, a investigação confirmou uma ligação psicológica crucial com a autoestima.
Para os indivíduos com baixa perceção de autoestima, acreditar numa teoria da conspiração – culpando as forças externas e ocultas pelos seus problemas – pode ser uma forma de lidar com sentimentos de impotência.
Isto é particularmente relevante para os jovens. Pesquisas há muito que mostram que a autoestima tende a ser menor na juventude, antes de aumentar de forma constante com a idade.
O que pode ser feito?
Compreender estas causas é essencial, pois mostra que simplesmente desmascarar alegações falsas não é uma solução suficiente.
Para realmente abordar o aumento das teorias da conspiração e limitar as suas consequências, precisamos de abordar as questões subjacentes que tornam estas narrativas tão atraentes.
Dado o papel desempenhado pela alienação política, um passo fundamental é tornar as nossas democracias mais representativas.
Ao trabalhar activamente para aumentar a presença dos jovens nas nossas instituições políticas, podemos ajudá-los a ter fé de que o sistema pode funcionar para eles, reduzindo o apelo das teorias que o afirmam irremediavelmente corrupto.
Democracia mais inclusiva
Isto não significa desencorajar a paixão pelo ativismo juvenil. Em vez disso, trata-se de capacitar os jovens com as ferramentas necessárias para navegar no complexo panorama informativo da atualidade.
Promover uma educação sólida em matéria de media e literacia digital pode ajudar os indivíduos a avaliar criticamente a informação que encontram em todos os círculos, incluindo espaços ativistas online.
A ligação com a autoestima aponta também para uma responsabilidade social mais ampla.
Ao investir na saúde mental e no bem-estar dos jovens, podemos ajudar a aumentar a resiliência psicológica e o sentido de autonomia, o que os torna menos vulneráveis aos jogos de culpa simplistas oferecidos pelas teorias da conspiração.
Em última análise, construir uma sociedade resistente à desinformação não significa encontrar defeitos numa geração específica.
Trata-se de criar uma democracia mais forte e inclusiva, onde todos os cidadãos, especialmente os jovens, se sintam representados, empoderados e seguros.
ZAP // The Conversation