JAVAD PARSA ; POOL/EPA

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy
Rússia agradece e intensifica os ataques, a questão da entrega de armas e o “cofre de guerra” de Putin.
A Ucrânia reagiu na noite passada ao recente ataque dos EUA ao Irão. O Governo ucraniano apoia os EUA (e Israel), países que “enviam um sinal claro ao regime iraniano”.
A Ucrânia alega que “é inaceitável o Irão prosseguir a sua política de desestabilização da situação de segurança no Médio Oriente”. O Irão foi “cúmplice” da invasão russa da Ucrânia e forneceu a Moscovo “assistência militar”, continuam os ucranianos.
Há apoio, mas há preocupação. O jornal alemão Handelsblatt escreve que a preocupação é grande na Ucrânia, porque Kiev teme consequências graves em três áreas, na guerra com a Rússia.
A primeira é uma recordação do que aconteceu quando começou a guerra em Gaza: a atenção internacional à Ucrânia provavelmente vai diminuir. A Rússia deverá agradecer o desvio de atenções e pode intensificar os ataques enquanto o mundo olha para o Médio Oriente. Os políticos ucranianos têm sublinhado que esperam que o seu país não seja esquecido na actual tensa situação mundial. Mas o presidente da Rússia, Vladimir Putin, “irá certamente tirar partido” do ataque dos EUA ao Irão, descreveu Oleksandr Mereshko, da Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia.
O segundo factor é a entrega de armas. A Ucrânia está muito dependente das armas dos EUA mas, nesta nova fase, e por motivos óbvios, as armas entregues pela Casa Branca vão ser mais necessárias no Irão. Aliás, ainda antes deste ataque, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, já tinha dito que os EUA tinham desviado 20 mil armas – de que a Ucrânia necessitaria – para abater drones russos no Médio Oriente; Pete Hegseth, secretário da Defesa dos EUA, já admitiu que os EUA enviaram para o Médio Oriente armas que eram para a Ucrânia. Por outro lado, o Irão pode cortar também no envio de mísseis e drones à Rússia (embora a escala seja diferente).
O terceiro factor de preocupação é o “cofre de guerra” de Putin. O petróleo fica mais caro por causa do conflito no Irão, o 7.º maior produtor de petróleo do mundo, e a Rússia pode beneficiar desse factor, exportando mais, vendendo mais caro – e o Kremlin fica com mais dinheiro para a produção de equipamento militar.
A Rússia voltou a atacar Kiev nesta madrugada, matando novamente ucranianos, tal como tem acontecido nos últimos dias. Muitos locais temem que esta já é uma consequência da falta de apoios e de atenção internacional. Os sistemas de defesa da Ucrânia, sobretudo anti-aéreos, já estarão a enfraquecer.