O fungo Aspergillus, que já está presente em algumas partes do globo, está a espalhar-se rapidamente. O seu principal aliado é a temperatura excessiva que o Planeta pode atingir — que pode ajudar o fungo a propagar-se.
O seu organismo está todos os dias a inalar centenas de esporos invisíveis.
A maioria destes esporos, principal forma de reprodução dos fungos, flutua para dentro e para fora do seu organismo, sem deixar rasto nem causar danos.
Algumas espécies de fungos infetam os pulmões, estragam colheitas e perturbam ecossistemas, tudo ao mesmo tempo. Em suma, podem causar grandes estragos e deixar a morte por onde passam.
A maior parte dos bolores e fungos são úteis, mas alguns saltam das enfermarias dos hospitais para as colmeias de abelhas, e a linha que os separa das espécies invasoras nocivas torna-se mais ténue a cada ano que passa.
Na maior parte das vezes, os sistemas imunitários saudáveis afastam os esporos perigosos e combatem as infeções. O problema surge quando as defesas enfraquecidas, o aumento das temperaturas e o uso intensivo de fungicidas fazem pender a balança a favor dos fungos.
Como explica a Earth.com, o mesmo fungo que decompõe silenciosamente as folhas caídas no seu quintal pode subitamente começar a desencadear complicações de saúde e resistir aos medicamentos que antes o mantinham sob controlo.
Depois de estudar as ameaças dos fungos durante anos, Norman van Rhijn e os seus colegas da Universidade de Manchester mapearam a forma como três espécies famosas de Aspergillus – A. flavus, A. fumigatus e A. niger – se poderiam propagar até ao final do século.
No seu estudo, cujos resultados foram recentemente publicados na Research Square, os investigadores analisaram vários futuros possíveis, com destaque para alterações climáticas em modelos globais, e observaram os padrões de deriva dos esporos virtuais. Um dos cenários (SSP585) pressupõe um futuro onde ainda somos dependentes dos combustíveis fósseis.
O efeito do clima
O fungo Aspergillus prospera porque o seu genoma se adapta facilmente a novas pressões. Vive no solo, em grãos, em penas de animais e até em esqueletos de coral. Na natureza, recicla nutrientes, mas nas explorações agrícolas e nas clínicas, a história muda.
Os agricultores pulverizam fungicidas azólicos para proteger o trigo; os médicos utilizam medicamentos azólicos quase idênticos para salvar doentes com infeções pulmonares. Esta sobreposição empurra o Aspergillus para a resistência aos medicamentos, semelhante à evolução das bactérias contra os antibióticos.
A temperatura, a humidade e os fenómenos meteorológicos extremos determinam onde os esporos se instalam: “Fatores ambientais, como a humidade e os fenómenos meteorológicos extremos, alteram os habitats e conduzem à adaptação e disseminação dos fungos”, afirmou van Rhijn.
“Já vimos o aparecimento do fungo Candida auris devido ao aumento das temperaturas, mas, até agora, tínhamos pouca informação sobre a forma como outros fungos poderiam responder a esta mudança no ambiente”.
Os fungos continuam a ser “relativamente pouco estudados em comparação com os vírus e os parasitas, mas as previsões mostram que provavelmente atingirão a maior parte das regiões do mundo no futuro”, acrescenta o investigador.
Segundo os autores do estudo, o A. flavus na Europa poderia aumentar cerca de 16%, colocando potencialmente mais um milhão de pessoas em risco de infeção.
O A. fumigatus, principal responsável pela aspergilose invasiva, poderia expandir a sua área de atuação na Europa em 77,5%, ameaçando mais de nove milhões de habitantes.
Em África, paradoxalmente, algumas partes do continente podem tornar-se demasiado quentes para que alguns fungos sobrevivam, o que sugere a existência de complexos compromissos regionais.
Apesar disso, em 2023 uma equipa de investigadores identificou um fungo cerebral mortal a espalhar-se em África — que poderia tornar real o cenário do jogo e série The Last of Us da HBO Max. Felizmente, não aconteceu — ou provavelmente não estaríamos aqui para lhe dar esta notícia.