Cientistas construíram células que controlam o tempo — como um relógio

ZAP // UC Merced

Vesículas sintéticas semelhantes a células ajudaram os cientistas a explorar os mistérios do nosso relógio biológico, ou ritmo circadiano. Este processo é extremamente importante para a nossa saúde, e os cientistas estão agora a desvendar os segredos deste processo ao nível celular.

Uma das muitas maravilhas biológicas da vida na Terra é a forma quase perfeita como os nossos corpos conseguem sentir a passagem do tempo.

Conhecido como o nosso relógio biológico, ou ritmo circadiano, este processo natural regula o nosso ciclo sono-vigília e está altamente sintonizado com a rotação de 24 horas da Terra.

Para compreender melhor este mecanismo, cientistas da Universidade da Califórnia Merced tentaram reconstruir este sistema de relojoaria em cianobactérias.

A equipa criou estruturas semelhantes a células conhecidas como vesículas (cada uma com apenas 2 a 10 micrómetros de diâmetro) e carregou-as com “proteínas de relógio” — grupos de proteínas que desempenham um papel importante na regulação do ritmo circadiano.

Os resultados do estudo, conduzido por investigadores da Universidade da Califórnia / Merced, foram apresentados num artigo recentemente publicado na revista Nature Communications.

No decurso do estudo, os investigadores usaram as “proteínas de relógio” de cianobactérias KaiA, KaiB e KaiC.

Segundo o Earth.com, a proteína KaiC funcionou como o centro do sistema, enquanto as outras proteínas deslocaram o processo para a frente e para trás.

Os investigadores selaram então a mistura de três proteínas e um marcador fluorescente no interior de vesículas lipídicas. Estas vesículas – essencialmente células artificiais – variavam entre dois a dez micrómetros de diâmetro.

“Este estudo mostra que podemos analisar e compreender os princípios fundamentais da cronometragem biológica usando sistemas sintéticos simplificados”, disse Anand Bala Subramaniam, investigadora da UC Merced e autora principal do estudo, num comunicado da universidade.

As células artificiais brilharam com ritmo regular de 24 horas durante pelo menos quatro dias. No entanto, quando o número de proteínas do relógio foi reduzido ou as vesículas eram mais pequenas, o brilho rítmico parou.

Esta perda de ritmo seguiu um padrão replicável.

Para explicar estas descobertas, a equipa construiu então um modelo computacional que revelou que os relógios se tornam mais robustos com concentrações mais elevadas de “proteínas de relógio” — permitindo que milhares de vesículas mantenham o tempo de forma fiável, mesmo quando as quantidades de proteína variam ligeiramente entre vesículas.

O modelo também sugeriu que outro componente do sistema circadiano natural — responsável por ligar e desligar genes — não desempenha um papel importante na manutenção de relógios individuais, mas é essencial para sincronizar o tempo do relógio numa população.

Os investigadores também notaram que algumas proteínas do relógio tendem a aderir às paredes das vesículas, o que significa que é necessária uma contagem total elevada de proteínas para manter o funcionamento adequado.

“O relógio circadiano cianobacteriano depende de reações bioquímicas lentas que são inerentemente ruidosas, e são necessários números elevados destas proteínas  para atenuar este ruído”, explica Mingxu Fang, professor de microbiologia na Universidade Estadual de Ohio e especialista em relógios circadianos.

“Este novo estudo introduz um método para observar reações de relógio reconstituídas dentro de vesículas de tamanho ajustável que imitam as dimensões celulares — e testar diretamente como e porquê organismos com diferentes tamanhos celulares podem adotar estratégias de cronometragem distintas”, conclui Fang.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.