As vespas podem ensinar-nos a viver mais tempo

M.E.Clark / Wikimedia

Nasonia vitripennis

Os cientistas descobriram um poder secreto das vespas que lhes permite travar o envelhecimento. Os humanos já estão a piscar o olho a esse truque.

Um estudo publicado na semana passada na PNAS revelou que a vespa-joia (Nasonia vitripennis) tem a capacidade de fazer um “intervalo” na sua fase inicial de vida como larva, num fenómeno conhecido como diapausa, levando a uma taxa mais lenta de envelhecimento até à idade adulta.

Este é o primeiro estudo a demonstrar diretamente que o relógio epigenético de um inseto pode ser modulado pelas condições ambientais do início da vida, e não apenas pela passagem do tempo.

Um relógio epigenético é um cronómetro biológico que mede a idade aparente do seu corpo a nível molecular, medindo as alterações na metilação do ADN. Os relógios epigenéticos acompanham isso para estimar a idade biológica de um organismo, independentemente da sua idade cronológica.

Como detalha a New Atlas, nesta investigação, as vespas obtiveram um envelhecimento molecular 29% mais lento do que outros que não tinham feito esta pausa e viveram significativamente mais tempo.

“É como se as vespas que fizeram uma pausa no início da vida tivessem voltado do banco com tempo extra. Isso mostra que o envelhecimento não é imutável. Pode ser retardado pelo ambiente, mesmo antes do início da idade adulta”, comparou o líder do estudo, Eamonn Mallon, professor de biologia evolutiva na Universidade de Leicester, em declarações à mesma revista.

As vespas mostraram ser epigeneticamente mais velhas logo após a diapausa (sexto dia), provavelmente devido a alterações na metilação ao acordarem, mas ao 30.º dia eram, em média, 2,7 dias biologicamente mais jovens do que os indivíduos do grupo de controlo.

Não parece muito, mas se convertermos este período de tempo em anos humanos, vemos que é um abrandamento significativo do processo de envelhecimento.

Humanos já piscam o olho

Este estudo é o primeiro a mostrar os efeitos a longo prazo do tipo de estado dormente em que alguns animais podem entrar.

Apesar de a diapausa não ser aplicável aos seres humanos, os cientistas salientam que compreender o que acontece com os insetos em nível molecular é um passo importante na pesquisa antienvelhecimento.

Estas vespas são um importante modelo para estudos da gerontologia, porque, como explica a New Atlas, ao contrário de muitos outros invertebrados, têm um sistema de metilação de DNA funcional – como os humanos.

“Compreender como e por que razão ocorre o envelhecimento é um grande desafio científico. Este estudo abre novos caminhos para a investigação, não apenas na biologia das vespas, mas também na questão mais ampla de se um dia poderemos criar intervenções para retardar o envelhecimento nas suas raízes moleculares”, afirmou Mallon.

Os investigadores conseguiram ver que a desaceleração molecular tinha vias biológicas claras que a impulsionavam. Algumas, como as que envolvem a insulina e a deteção de nutrientes, são vias que os seres humanos também têm, e isso também está agora a ser estudado por gerontologistas.

“Com as suas ferramentas genéticas, marcadores de envelhecimento mensuráveis e uma ligação clara entre o desenvolvimento e a esperança de vida, a Nasonia vitripennis é agora uma estrela em ascensão na investigação sobre o envelhecimento. Esta pequena vespa pode ter grandes respostas sobre como podemos travar o envelhecimento“, salienta Mallon.

ZAP //

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